Neste poema, João da Cruz transmite uma interpretação da encarnação, vida, morte e ressurreição de Cristo por cada alma, pela Igreja, em clave de amor.
Canções transpostas «ao divino» sobre Cristo e a alma
Um pastorzinho, só e amargurado,
Alheio de prazer e de contento
Tem na sua pastora o pensamento
E o peito por amor tão magoado.
Não chora por amor o haver chagado,
Pois lhe não dói assim ver-se afligido,
Embora o coração tenha ferido;
Mas chora de pensar ser olvidado.
Que só de se pensar já olvidado
Pela bela pastora, em dor tamanha
Se deixa maltratar em terra estranha,
Seu peito por amor tão magoado.
E diz o pastorzinho: Ai, malfadado
É quem do meu amor buscou a ausência
E quem não quer gozar minha presença,
Por seu amor meu peito magoado!
E, ao fim de grande tempo, ele há trepado
Uma árvore: abriu os braços belos
E morto lá ficou, suspenso deles,
Seu peito por amor tão magoado!
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