15 dezembro, 2013

OS POBRES SÃO EVANGELIZADOS


1. «Tendo João ouvido na prisão as obras de Cristo, enviou os seus discípulos, e disse-lhe: “És TU Aquele-que-vem, ou esperamos outro?” E respondendo, Jesus disse-lhes: “INDO (poreuthéntes), ANUNCIAI (apaggélô) a João o que ouvis e vedes: os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem e os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”» (Mateus 11,2-5).

 2. João Baptista não tem dúvidas de que Jesus é o Cristo, o Messias esperado. Se não tem dúvidas, então por que pergunta? Pergunta ou manda perguntar para dar a Jesus a oportunidade de se autoapresentar. É que João Baptista é o velho: «Todos os profetas e a Lei profetizaram até João» (Mateus 11,13). E Lucas acrescenta: «Daí para a frente é evangelizar o Reino de Deus» (Lucas 16,16). João Baptista chegou ao limiar do Novo Testamento, e indicou em Jesus o Messias. Indica-o, mas não o sabe dizer, como o velho não sabe dizer o novo. O novo é Jesus, o Cristo. E porque não o sabe dizer, pede a Jesus que seja ele a dizer-se. A pergunta de João é um sinal de sabedoria.

 3. E a resposta de Jesus, acima transcrita, é clara, mas mais performativa que informativa. De acordo com este belo e transformante dizer de Jesus, é o caudal da evangelização que chega até João. Que o mesmo é dizer: João é evangelizado! Ele é o primeiro «pobre», perseguido pelos poderosos, e, por esse motivo, metido na prisão de Maqueronte. João denunciou abertamente os erros de Herodes Antipas, e este meteu-o na prisão. João não era um «cão mudo» (Isaías 56,10), embriagado à beira da estrada. No escuro das paredes da prisão de Maqueronte, João recebe a «boa notícia» que abre os seus olhos. Permanecendo embora no escuro cárcere, João Baptista recebe a vista de Jesus através da boa notícia que os seus discípulos lhe transmitem: ele é o primeiro «cego» que recebe a vista, o primeiro «pobre» que é evangelizado!

 4. Em contraponto com o Messias anunciado por João Baptista, que vem para julgar já e em força em Jerusalém, empunhando o machado (ver Mateus 3,10) e a pá de joeirar (Mateus 3,12), Jesus instala-se na Galileia, como Luz das Nações (Mateus 4,12-16, cumprindo Isaías 8,23-9,1). É lá que recebe os discípulos de João e de lá os envia de volta para João, como testemunhas de um mundo novo, frágil e feliz, inclusivo e não exclusivo (veja-se a predilecção de Jesus pelos pobres, doentes e pagãos), que está a nascer, e em que Jesus se diz a si mesmo recorrendo a Isaías 29,18-19; 35,5-6 e 61,1.

 5. «Orvalho de luz» (Isaías 26,19) ou de lume, palha incendiada, vida nova a rebentar dos quatro cantos do nosso mundo inerte, em que os vivos quase já não chegam para sepultar os mortos (Sabedoria 18,12). Luzes e vozes de alegria que abrem olhos engessados, rompem ouvidos rombos, entupidos por mato e por silvas, levantam paralíticos que saltam como filhotes de gazela (Isaías 35,6), desatam línguas de mudos e nós cegos que asfixiam corações! Tantos caminhos que se abrem para os deserdados que não têm caminhos, nem luz, nem uma mão ou voz amiga, nem música de dança para ouvir. Mais do que caminhos, são passadeiras floridas, jardins e avenidas (Sabedoria 19,3), tanto sonho, tanta água, tanta luz a irromper pelo deserto, oh Isaías 35,1-6!

 6. A avenida florida é no deserto, engenharia divina, que transporta os seus filhos queridos da escuridão da Babilónia para a luz em flor de Jerusalém. «Ele mesmo, Deus, andará por essa estrada» (Isaías 35,8), esse caminho, essa avenida. Estrada santa, passadeira de luz e de sentido, engenharia divina!

 7. Arrisca um passo nessa estrada divina, nessa estrada de luz e de graça, meu irmão do Advento. Encontrarás com certeza alguém que te levará até Belém. É importante que essa estrada de Amor, Perdão, Bondade, Justiça e Paz chegue à tua porta, à tua casa, ao teu coração. Do coração de Deus ao teu coração. Do teu coração ao coração do teu irmão.

 8. Com paciência, persistência, humildade e amor. Sê como o camponês, que acaricia a semente, lavra a terra, visita o campo para ver crescer devarinho a plantação. Vela também sobre o teu coração, para que não se torne duro e pesado. Vigia com amor, como quem está sempre à espera de alguém que ama, à espera do Senhor que vem. E pode vir na pessoa de um irmão. Não digais mal uns dos outros. Grande lição de Tiago 5,7-10.

 9. Vê-se bem que o melhor e mais belo que anda por aí não é obra nossa. É engenharia de Deus a inundar de Luz este Domingo da Alegria! A nós compete-nos deixar entrar em nós esta torrente de Evangelho, e começar então a ver, sentir e dizer bem, belo e bom. Ajustar a nossa esquadria por essa engenharia.


D. António Couto, in Mesa de Palavras

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