1. A Igreja Una e Santa celebra no dia 2 de Fevereiro, quarenta dias depois
do Natal, a Festa da Apresentação do Senhor, que as Igrejas do Oriente conhecem
por Festa do Encontro (Hypapantê) e dos Encontros: Encontro de Deus com o seu
Povo agradecido, mas também de Maria, de José e de Jesus com Simeão e Ana.
Também connosco.
2. Quarenta dias depois do seu
nascimento, sujeito à Lei (Gálatas 4,4), Jesus, como filho varão primogénito, é
apresentado a Deus, a quem, sempre segundo a Lei de Deus, pertence. De facto, o
Livro do Êxodo prescreve que todo o filho primogénito, macho, quer dos homens
quer dos animais, é pertença de Deus (Êxodo 13,11-13), bem como os primeiros
frutos dos campos (Deuteronómio 26,1-10).
3. É assim que, para cumprir a Lei
de Deus, quarenta dias depois do seu nascimento, Jesus é levado pela primeira
vez ao Templo, onde, também pela primeira vez, se deixa ver como a Luz do mundo
e a nossa esperança.
4. Compõe a cena um velhinho chamado
Simeão, nome que significa «Escutador», que vive atentamente à escuta, em
Hi-Fi, alta-fidelidade, alta frequência, alta definição, amor novo, e que o
Evangelho apresenta como um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de
Israel. Ora, esse velhinho que vivia à espera e à escuta, com premurosa atenção
e coração vigilante, veio ao Templo sob o impulso do Espírito (en tô pneúmati).
Fica aqui declarada a qualidade da energia e da alegria que move o velho e
querido Simeão: não é movido a carvão, nem a água, nem a vento, nem a petróleo
e seus derivados, nem a electricidade, nem a energia nuclear. Simeão é movido
pelo Espírito Santo. Maneira novíssima de viver, pausa e bemol na nossa
impetuosidade, na nossa vontade de aparecer e de fazer, pausa e bemol nos
nossos protagonismos e vontade de poder. Falamos quase sempre antes do tempo, e
não chegamos a dar lugar à suave voz do Espírito. Na verdade, adverte-nos
Jesus: «Não sois vós que falais, mas o Espírito Santo» (Marcos 13,11; cf.
Mateus 10,20; Lucas 12,12). Portanto, é urgente esperar! Regressemos, pois, à
beleza de Simeão. Ao ver aquele Menino, recebeu-o carinhosamente nos braços.
Por isso, os Padres gregos dão a Simeão o título belo de Theodóchos [=
«recebedor de Deus»]. É então que Simeão entoa o canto feliz do entardecer da
sua vida, um dos mais belos cantos que a Bíblia registra: «Agora, Senhor, podes
deixar o teu servo partir em paz, porque os meus olhos viram a tua salvação,
que preparaste diante de todos os povos, Luz que vem iluminar as nações e
glória do teu povo, Israel!» (Lucas 2,29-32).
5. E, na circunstância, também uma
velhinha chegou carregada de Graça e de Esperança. Chamava-se Ana, que
significa «Graça». É
dita «Profetisa», isto é, que anda, também ela, sintonizada em Hi-Fi,
alta-fidelidade, com a Palavra de Deus escutada, vivida e anunciada. Diz ainda
o texto que era filha de Fanuel, nome que significa «Rosto de Deus», e que era
da tribo de Aser, que quer dizer «Felicidade». Tanta intimidade com Deus!
Também esta velhinha, serena e feliz, com 84 anos, número perfeito de números
perfeitos (7 x 12), teve a Graça de ver aquele Menino. E diz bem o texto do
Evangelho que Ana «falava daquele Menino a todos os que esperavam a libertação
de Jerusalém» (Lucas 2,38). Outra vez a beleza inteira do díptico do Evangelho
de Lucas: Simeão e Ana. Simeão esperava e Ana anunciava. Eis aqui presente,
nestes dois maravilhosos velhinhos, a inteira Escritura dos dois Testamentos, e
o retrato a corpo inteiro do Consagrado, que, na Bíblia hebraica, se diz Nazîr,
um nome passivo e receptivo, totalmente dedicado a Deus, conduzido por Deus,
«compondo» com emoção os acontecimentos de Deus.
6. Esta é a Festa da Alegria e da
Esperança acumulada e realizada. É a Festa da Luz. Simeão e Ana viram a Luz e
exultaram de Alegria. Hoje somos nós que nos chamamos Simeão e Ana. Somos nós
que recebemos esta Luz nos braços, e que ficamos a fazer parte da família da
Felicidade e a viver pertinho de Deus, Rosto a Rosto com Deus, Escutadores
atentos do bater do coração de Deus, movidos pelo Espírito de Deus, Recebedores
de Deus, Anunciadores de Deus. Rezamos hoje para que, nesta sociedade de coisas
e de números (cf. Isaías 5,8), os Consagrados vivam cada vez mais Rosto a Rosto
com Deus, e dêem testemunho no mundo deste Dom maravilhoso.
7. Por isso e para isso é que Ele
vem, conforme a lição de Malaquias 3,1-4 e Hebreus 2,14-18. Vem de Deus, mas
senta-se connosco. Em tudo semelhante aos seus irmãos. Lava-nos os pés e a
alma. Apaga os nossos pecados. Põe-nos em comunhão
com Deus. Tanta proximidade faz deste Dia a Festa do Encontro.
8. Não nos conformemos, pois, com as pedras e
as pautas deste mundo (Romanos 12,2). Experimentemos viver em Hi-Fi, alta
frequência, alta-fidelidade, alta dedicação, amor novo. Anda por aí uma música
nova à nossa espera. É como um som que nunca se ouviu, como um silêncio que
nunca se calou! Que Maria, a Mãe da Alegria, nos leve pela mão e nos ensine a
subir e a descer a escadaria do coração.
D. António Couto, in Mesa de Palavras
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