"Em Novembro de 1887, Teresa vai
em peregrinação a Roma juntamente com o Pai e a irmã Celina (ibid., 55v-67r). Para ela, o momento
culminante é a Audiência do Papa Leão XIII, ao qual pede a autorização para
entrar, apenas com 15 anos, no Carmelo de Lisieux. Um ano depois, o seu desejo
realiza-se: torna-se Carmelita, «para salvar as almas e rezar pelos sacerdotes»
(ibid.,69v). Contemporaneamente, começa também a dolorosa e humilhante
doença mental do seu pai. É um grande sofrimento que leva Teresa à contemplação
da Face de Jesus na sua Paixão (ibid.,71rv). Assim, o seu nome de
Religiosa — irmã Teresa do
Menino Jesus e da Sagrada Face —expressa o programa de toda a sua vida, em
comunhão com os Mistérios centrais da Encarnação e da Redenção. A sua profissão
religiosa, na festa da Natividade de Maria, a 8 de Setembro de 1890, é para ela
um verdadeiro matrimónio espiritual na «pequenez» evangélica, caracterizada
pelo símbolo da flor: «Que festa bonita a Natividade de Maria para se tornar
esposa de Jesus — escreve — Era a pequena Virgem Santa de um dia que
apresentava a sua pequena flor ao pequeno Jesus» (ibid., 77r). Para Teresa ser religiosa
significa ser esposa de Jesus
e mãe das almas (cf. Ms B,
2v). No mesmo dia, a Santa escreve uma oração que indica toda a orientação da
sua vida: pede a Jesus o dom do seu Amor infinito, para ser a mais pequena, e
sobretudo pede a salvação de todos os homens: «Que nenhuma alma seja danada
hoje» (Pr 2). De grande importância é a sua Oferta
ao Amor Misericordioso, feita na festa da Santíssima Trindade de 1895 (Ms
A, 83v-84r; Pr 6): uma oferenda que Teresa partilha imediatamente com as suas
irmãs de hábito, sendo já vice-mestra das noviças.
Dez anos depois da «Graça de Natal», em 1896, vem a «Graça de
Páscoa», que abre a última fase da vida de Teresa com o início da sua paixão em
profunda união com a Paixão de Jesus; trata-se da paixão do corpo, com a doença
que a levará à morte através de grandes sofrimentos, mas sobretudo trata-se da
paixão da alma, com uma dolorosíssima prova
da fé (Ms C, 4v-7v). Com
Maria ao lado da Cruz de Jesus, Teresa vive então a fé mais heróica, como luz
nas trevas que lhe invadem a alma. A Carmelita tem a consciência de viver esta
grande prova para a salvação de todos os ateus do mundo moderno, por ela
chamados «irmãos». Vive então ainda mais intensamente o amor fraterno (8r-33v):
para com as irmãs da sua comunidade, para com os seus dois irmãos espirituais
missionários, para com os sacerdotes e todos os homens, sobretudo os mais
distantes. Torna-se deveras uma «irmã universal»! A sua caridade amável e
sorridente é a expressão da alegria profunda da qual nos revela o segredo:
«Jesus, a minha alegria é amar-Te» (P 45/7). Neste contexto de sofrimento,
vivendo o maior amor nas mais pequenas coisas da vida quotidiana, a Santa
realiza a sua vocação de ser o Amor no coração da Igreja (cf. Ms B, 3v).
Teresa faleceu na noite de 30 de Setembro de 1897, pronunciando as
simples palavras «Meu Deus, amo-Te!», olhando para o Crucifixo que estreitava
nas suas mãos. Estas últimas palavras da Santa são a chave de toda a sua
doutrina, da sua interpretação do Evangelho. O acto de amor, expresso no seu
último suspiro, era como que o contínuo respiro da sua alma, como o pulsar do
seu coração. As simples palavras «Jesus,
amo-Te» estão no centro de
todos os seus escritos. O acto de amor a Jesus imerge-a na Santíssima Trindade.
Ela escreve: «Ah, tu sabes, amo-te Menino Jesus, / O Espírito de Amor
inflama-me com o seu fogo. / É amando-Te que eu atraio o Pai» (P 17/2)."
Bento XVI, In Audiência Geral de 6 de Abril de 2011
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