27 janeiro, 2013

III Domingo do Tempo Comum




Durante os seguintes Domingos do presente ano litúrgico, seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. É, portanto, lógico que, no início do tempo comum, nos seja proposto o prólogo ou introdução deste Evangelho.
O prólogo de Lucas revela-nos o sentido dos evangelhos. São os relatos da experiência de fé das primeiras comunidades cristãs a partir da Ressurreição de Jesus. Por isso, os evangelhos constituem uma mensagem baseada no passado, interpretada à luz do presente (a vida das primeiras comunidades) e com perspectivas para o futuro (a Igreja posterior). Também São Lucas dedica o seu evangelho ao "excelentíssimo Teófilo", nome que significa “amigo de Deus”, por tanto, nele cada um de nós pode e deve sentir-se incluído e interpelado. Os evangelhos são uma "boa notícia" para nós, homens e mulheres do século XXI.
A segunda parte do trecho Evangélico de hoje está separada do prólogo por três capítulos. Deste modo, ouvimos parte do capítulo quatro, onde nos é apresentado o início da vida pública de Jesus.
Jesus, na sinagoga de Nazaré, recebe a Palavra, proclama-a ao povo, recolhe o livro e anuncia a actualidade da Palavra. Mas, de facto, o próprio Jesus é a Palavra anunciada pelos profetas, por isso, Ele pôde dizer que “hoje” se cumpriu a Palavra anunciada já há tantas gerações. Na verdade, a Igreja proclama Jesus Cristo como o Salvador dos homens, ontem, hoje e sempre.
O papa Bento XVI diz, a este respeito, que “a Igreja não vive de si mesma mas do Evangelho e dele tira sempre de novo a orientação para o seu caminho. Trata-se – continua a dizer o Papa – de uma observação que cada cristão deve acolher e aplicar a si mesmo: só quem se coloca antes de tudo à escuta da Palavra de Deus pode depois tornar-se anunciador. De facto, ele (o cristão) não deve ensinar a sua própria sabedoria, mas a sabedoria de Deus, que muitas vezes, aos olhos do mundo, parece loucura. A Igreja e a Palavra de Deus estão inseparavelmente ligadas entre si. A Igreja vive da Palavra de Deus e a Palavra de Deus ressoa na Igreja, no seu ensinamento e em toda a sua vida” – conclui o Papa.
Por conseguinte, é indispensável ter presente que a Palavra de Deus é um dos principais pilares da nossa fé cristã, porque sem a Palavra proclamada e explicada a fé não amadurece. Torna-se assim compreensível que é fundamental, para aprofundar na nossa vida cristã, escutar e assimilar a Palavra que Deus nos revelou, por meio do seu Filho, Jesus Cristo.
Por isso, ser cristão e “anunciar hoje a Palavra” não é somente uma questão de palavras e discursos sugestivos; exige, simultaneamente, compromisso. O “anúncio” da boa notícia não é simplesmente transmitir informação, mas fazer, construir, lutar contra o mal, curar, reabilitar os irmãos, colocar-se ao seu serviço, acompanhar e dignificar a vida como manifestação da mão criadora de Deus. E somente assim a “evangelização” hoje será como a de Jesus que veio a fazer maravilhas em favor dos pobres, atribulados e cativos.
Este Domingo convida-nos a recomeçar de novo o projecto de vida cristã que queremos dar aos nossos dias. E a melhor forma é começar por aprender a escutar e acolher a Palavra de Deus, a exemplo de Nossa Senhora que guardava e meditava a Palavra no seu coração. Mas, depois, uma vez assimilada, essa Palavra deve tornar-se vida na nossa vida, pois “felizes os que escutam e cumprem a Palavra”.
O convite que o evangelho nos faz hoje, é aprofundar com seriedade e constância a riqueza da palavra de Deus, porque somente meditando-a e interiorizando-a, aprenderemos a vive-la quotidianamente. Deus continua a falar ao nosso coração por meio da sua palavra, e a palavra tem como missão alimentar o nosso caminho de fé, que iniciámos no dia do nosso Baptismo. Porque, como diz Santo Agostinho, a Deus falamos-lhe quando rezamos, mas é Ele que nos fala quando lemos e ouvimos a sua palavra. 
Em suma, sejamos atentos e dóceis à Palavra que Deus nos quis confiar. Não tenhamos medo das suas exigências. Se permanecermos fiéis aos compromissos do nosso Baptismo nunca deixaremos de levar Jesus Cristo aos outros. Esta é a missão que “hoje” nos faz concretizar a Palavra anunciada a todos os povos. Daí que são Paulo, na segunda leitura, falando dos carismas, sublinhe a importância primordial que deve ser dada ao anúncio da palavra de Deus.
Que a nossa vida cristã seja concretizada na alegria da fé que brota da Palavra de Deus. Só assim nos tornamos testemunhas de Jesus Cristo diante do mundo que nos desafia e interroga.
Jesus resumiu o seu projecto em poucas palavras: libertação das pessoas de toda espécie de escravidão. Mas, a libertação integral do homem não se consegue senão à base de amor e perdão, tolerância e liberdade, respeito pela dignidade da pessoa, serviço à verdade e à vida, fraternidade e solidariedade.
Hoje, somos nós, cristãos que devemos continuar a levar por diante o anúncio de esperança e o mesmo tipo de acção de Jesus.
Deixemo-nos conduzir pela Palavra de Deus, para caminhar com decisão para Cristo.

P. Vítor Hidalgo López

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