"4. Dilectos Irmãos e Irmãs! Porque era judia, Edith Stein foi
deportada juntamente com a irmã Rosa e muitos outros judeus dos Países Baixos
para o campo de concentração de Auschwitz, onde com eles encontrou a morte nas
câmaras de gás. Hoje recordamo-nos de todos com profundo respeito. Poucos dias
antes da sua deportação, a quem lhe oferecia uma possibilidade de salvar a
vida, a religiosa respondera: «Não o façais! Por que deveria eu ser excluída? A
justiça não consiste acaso no facto de eu não obter vantagem do meu baptismo?
Se não posso compartilhar a sorte dos meus irmãos e irmãs, num certo sentido a
minha vida é destruída».
Doravante, ao celebrarmos a memória
da nova Santa, não poderemos deixar de recordar todos os anos também o Shoah,
aquele atroz plano de eliminação de um povo, que custou a vida a milhões de
irmãos e irmãs judeus. O Senhor faça brilhar o seu rosto sobre eles,
concedendo-lhes a paz (cf.Nm 6,
25s.).
Por amor de Deus e do homem, lanço
de novo um premente brado: nunca mais se repita uma semelhante iniciativa
criminosa para nenhum grupo étnico, povo e raça, em qualquer recanto da terra!
É um brado que dirijo a todos os homens e mulheres de boa vontade; a todos
aqueles que crêem no Deus eterno e justo; a todos aqueles que se sentem unidos
em Cristo, Verbo de Deus encarnado. Aqui, todos nós devemos ser solidários: é a
dignidade humana que está em jogo. Só existe uma única família humana. É isto
que a nova Santa afirmou com grande insistência: «O nosso amor pelo próximo -
escrevia - é a medida do nosso amor a Deus. Para os cristãos - e não só para eles
- ninguém é "estrangeiro". O amor de Cristo não conhece fronteiras».
5. Estimados Irmãos e Irmãs! O amor
de Cristo foi o fogo que ardeu a vida de Teresa Benedita da Cruz. Antes ainda
de se dar conta, ela foi completamente arrebatada por ele. No início, o seu
ideal foi a liberdade. Durante muito tempo, Edith Stein viveu a experiência da
busca. A sua mente não se cansou de investigar e o seu coração de esperar.
Percorreu o árduo caminho da filosofia com ardor apaixonado e no fim foi
premiada: conquistou a verdade; antes, foi por ela conquistada. De facto,
descobriu que a verdade tinha um nome: Jesus Cristo, e a partir daquele momento
o Verbo encarnado foi tudo para ela. Olhando como Carmelita para este período
da sua vida, escreveu a uma Beneditina: «Quem procura a verdade, consciente ou
inconscientemente, procura a Deus».
Embora sua mãe a tenha educado na
religião hebraica, aos 14 anos de idade Edith Stein, «consciente e
propositadamente desacostumou-se da oração». Só queria contar consigo mesma,
preocupada em afirmar a própria liberdade nas opções de vida. No fim do longo
caminho, foi-lhe dado chegar a uma surpreendente conclusão: só quem se une ao
amor de Cristo se torna verdadeiramente livre.
A experiência desta mulher, que
enfrentou os desafios de um século atormentado como o nosso, é para nós exemplar: o mundo moderno ostenta a
porta atraente do permissivismo, ignorando a porta estreita do discernimento e
da renúncia. Dirijo-me especialmente a vós, jovens cristãos, em particular aos
numerosos ministrantes reunidos em Roma nestes dias: evitai conceber a vossa
vida como uma porta aberta a todas as opções! Escutai a voz do vosso coração!
Não permaneçais na superfície, mas ide até ao fundo das coisas! E quando chegar
o momento, tende a coragem de vos decidirdes! O Senhor espera que coloqueis a
vossa liberdade nas suas mãos misericordiosas."
João Paulo II, In Homilia na canonização de Edith Stein
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