Batem sem
parar, furiosas,
as ondas
do mar.
Batem na
areia, na rocha dura,
Batem no
vento e salta-lhes o sal
sem saber
qual é o seu mal.
Combate em
mim o não e o sim
o porquê,
o como e o onde,
a recta, a
curva e o trilho,
o fundo, o
abismo e a razão,
a
tempestade e o mar chão,
a calma, a
tempestade e o trovão,
o ribeiro
manso, a tarde calma
e tudo o mais
que se armadilha na alma.
Busco o
caminho
e encontro
desassossego.
Lanço-me
pelo lavradio e p’lo maninho
e ali
mói-me e abate-me o medo.
Canso-me por
trilhos sem fim,
doem-me duras
as noites,
adormeço
tarde e evito a sesta:
quando
chegar quero estar
de olhos
abertos,
e os
sentidos tesos e despertos.
Mas o mais
certo é já há muito
Ele ter
falado ao meu coração
e a
tempestade ter acalmado.
Porém eu
sigo sentindo ainda
a língua
fria, os duros abalos,
os piores
tremores, os frios suores,
os
músculos rijos, os cabelos em pé,
que são
sinais da Voz dizendo-me
que não
devo buscar mais.
E continua
a ciciando-me
enquanto o
coração não se acalma.
Não esperes,
digo-me, então, que Ele diga
à tua alma
com voz serena e calma:
Sou eu!
Ouve-o antes
da madrugada, quando ainda
a manhã
não anuncia o calor do dia.
Ouve-o
antes que as flores floresçam
e o raios
de sol aqueçam
a terra,
as ervas e os animais.
Ouve-o quando
a tarde finda
e te chama
para o descanso
como
aquele ribeiro manso
que desce rápido
para o mar.
Ouve-o no
secreto do coração
quando ele
te arde como uma fogueira.
Ouve-Lhe a
fala falando sem aviso,
quando é
preciso e quando não.
Sim, Ele
fala a vez primeira,
um cento,
e um milhão.
Ouve-O, que
Ele em ti fala
com voz
mansa e branda,
e a seguir
se cala
como quem
não sabe nem manda,
nem tem
poder de saber
mandar
fazer fogo para aquecer.
Fr. João Costa
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