15 junho, 2013

Bilhete de identidade de Paulo (I)



«Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui educado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei dos nossos pais e cheio de zelo pelas coisas de Deus, como todos vós sois agora» (Act 22,3).

Lugar, ambiente em que nasceu e se criou

Paulo nasceu em Tarso, na região da Cilícia, na Ásia menor, actual Turquia. Era uma cidade bonita e grande. De acordo com os cálculos de alguns estudiosos, teria então cerca de 300.000 habitantes. Para o Sul, a cidade abria-se para o Mediterrâneo; para o Norte, espraiava-se junto a uma serra com 3000 metros de altitude. Tarso era um importante centro de cultura e de comércio. Possuía um porto muito movimentado. Passava por lá a estrada que fazia a ligação entre o Oriente e o Ocidente. Como é que Paulo, sendo judeu, foi nascer numa cidade grega da Ásia Menor? Desde o século VI a.C., muitos judeus emigraram para fora da Palestina. Em quase todas as cidades do Império Romano, havia bairros judeus, cada um com a sua Sinagoga e organização comunitária. Formavam assim a chamada diáspora (dispersão). Havia uma comunicação muito intensa entre Jerusalém e a diáspora: romarias, visitas, promessas, estudo… Jerusalém era o centro espiritual de todos os judeus. Assim se entende por que é que Paulo, nascido em Tarso, foi criado em Jerusalém. Nascido no seio de uma família judaica, Paulo foi criado dentro das exigências da Lei de Deus e das «tradições paternas». Os judeus da diáspora eram judeus praticantes. A sua maior preocupação era a observância da Lei de Deus. Por isso, lutavam contra aquelas leis e costumes do Império Romano que dificultavam ou impediam a observância da Lei de Deus. Por exemplo: prestar culto ao Imperador, trabalhar ao sábado, prestar serviço militar. Deste modo, conservavam viva a obrigação de serem «a nação consagrada, propriedade particular» de Deus e mantinham-se «separados», diferentes dos outros povos. Por causa disso, eram hostilizados e perseguidos. Mas carregavam a cruz da diferença como expressão da vontade de Deus. Paulo nasceu e cresceu nesse ambiente protegido e rígido do bairro judeu. De lá, olhava para o ambiente aberto e hostil da grande cidade grega. Estes dois ambientes marcaram a sua vida. Ele tinha dois nomes, um para cada ambiente: Saulo, o nome judaico, e Paulo, o nome grego. Ele mesmo prefere e assina «Paulo». Deus chama-o «Saulo».

Formação

Como todas as crianças judias da época, Paulo recebeu a sua formação básica na casa dos pais, na Sinagoga do bairro e na escola ligada à Sinagoga. A formação básica compreendia: aprender a ler e a escrever; estudar a Lei de Deus e a história do povo; assimilar as tradições religiosas; aprender as orações, sobretudo os Salmos. O método era: pergunta e resposta; repetir e decorar; disciplina e convivência. Além da formação básica em Tarso, Paulo recebeu uma formação superior em Jerusalém. Estudou aos pés de Gamaliel. Esse estudo abrangia as seguintes matérias: a Lei de Deus, chamada Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia – o Pentateuco). O estudo era feito através de leituras frequentes, até aprender tudo de memória. A tradição dos Antigos: actualizava a Lei de Deus para o povo. Tinha duas partes, chamadas, na sua língua, halaká e hagadá. A halaká ensinava como viver a vida de acordo com a Lei de Deus. Abarcava os costumes e leis complementares, reconhecidas como tais pelas autoridades competentes. Havia a halaká dos fariseus, a mais rigorosa, e a dos saduceus. Paulo formou-se na Tradição dos fariseus. A hagadá ensinava como ler a vida à luz da Lei de Deus. Não tinha a aprovação oficial das autoridades. Era mais livre. Continha as histórias da Bíblia. O modo de recordar e ler a história antiga ajudava o aluno a ler a sua própria história e a descobrir nela os apelos de Deus. A interpretação da Bíblia, chamada Midrash. Midrash significa procura. Ensinava as regras e o modo de procurar o sentido da Sagrada Escritura para a vida do povo e das pessoas. Ou seja, ensinava a descobrir que a janela do texto, através da qual se vê o passado do povo, é também espelho através do qual se vê o presente do mesmo povo. A leitura da Bíblia era o eixo da formação. Marcava a piedade do povo. Desde criança, os judeus aprendiam a Bíblia. Era sobretudo a mãe, em casa, quem tinha o cuidado de a transmitir aos filhos. Assim, desde pequeno, Paulo aprendeu que «toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa» (2 Tm 3,16-17). 

Pe. Vasco

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