"6. Santa Teresa Benedita da Cruz conseguiu compreender que o amor
de Cristo e a liberdade do homem se entretecem, porque o amor e a verdade têm
uma relação intrínseca. A busca da verdade e a sua tradução no amor não lhe
pareciam ser contrastantes entre si; pelo contrário, compreendeu que estas se
interpelam reciprocamente. No nosso tempo, a verdade é com frequência
interpretada como a opinião da maioria. Além disso, é difundida a convicção de
que se deve usar a verdade também contra o amor, ou vice-versa. Todavia, a
verdade e o amor têm necessidade uma do outro. A Irmã Teresa Benedita é
testemunha disto. «Mártir por amor», ela deu a vida pelos seus amigos e no amor
não se fez superar por ninguém. Ao mesmo tempo, procurou com todo o seu ser a
verdade, da qual escrevia: «Nenhuma obra espiritual vem ao mundo sem grandes
sofrimentos. Ela desafia sempre o homem inteiro». A Irmã Teresa Benedita da
Cruz diz a todos nós: Não aceiteis como verdade nada que seja isento de amor. E
não aceiteis como amor nada que seja isento de verdade!
7. Enfim, a nova Santa ensina-nos
que o amor a Cristo passa através da dor. Quem ama verdadeiramente, não se
detém diante da perspectiva do sofrimento: aceita a comunhão na dor com a
pessoa amada. Consciente do que comportava a sua origem judaica, Edith Stein
pronunciou palavras eloquentes a este respeito: «Debaixo da cruz, compreendi a
sorte do povo de Deus... Efectivamente, hoje conheço muito melhor o que significa
ser a esposa do Senhor no sinal da Cruz. Mas dado que se trata de um mistério,
isto jamais poderá ser compreendido somente com a razão». Pouco a pouco, o
mistério da Cruz impregnou toda a sua vida, até a impelir rumo à oferta
suprema. Como esposa na Cruz, a Irmã Teresa Benedita não escreveu apenas
páginas profundas sobre a «ciência da cruz», mas percorreu até ao fim o caminho
da escola da Cruz. Muitos dos nossos contemporâneos quereriam fazer com que a
Cruz se calasse. Mas nada é mais eloquente que a Cruz que se quer silenciar! A
verdadeira mensagem da dor é uma lição de amor. O amor torna o sofrimento
fecundo e este aprofunda aquele. Através da experiência da Cruz, Edith Stein
pôde abrir um caminho rumo a um novo encontro com o Deus de Abraão, Isaac e
Jacob, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé e a cruz revelaram-se-lhe
inseparáveis. Amadurecida na escola da Cruz, ela descobriu as raízes às quais
estava ligada a árvore da própria vida. Compreendeu que lhe era muito
importante «ser filha do povo eleito e pertencer a Cristo não só
espiritualmente, mas inclusive mediante um vínculo sanguíneo».
8. «Deus é espírito e aqueles que O
adoram devem adorá-Lo em espírito e verdade» (Jo 4, 24). Caríssimos Irmãos e Irmãs, com
estas palavras o divino Mestre entretém-se com a Samaritana junto do poço de
Jacob. Quanto Ele deu à sua ocasional mas atenta interlocutora, encontramo-lo
presente também na vida de Edith Stein, na sua «subida ao Monte Carmelo ». A
profundidade do mistério divino tornou-se-lhe perceptível no silêncio da
contemplação. Ao longo da sua existência, enquanto amadurecia no conhecimento
de Deus adorando-O em espírito e verdade, ela experimentava cada vez mais
claramente a sua específica vocação de subir à cruz juntamente com Cristo, de
abraçá-la com serenidade e confiança, de amá-la seguindo as pegadas do seu
dilecto Esposo: hoje, Santa Teresa Benedita da Cruz é-nos indicada como modelo
em que nos devemos inspirar e como protectora à qual havemos de recorrer. Dêmos
graças a Deus por este dom. A nova Santa seja para nós um exemplo do nosso
compromisso no serviço da liberdade e na nossa busca da verdade. O seu
testemunho sirva para tornar cada vez mais sólida a ponte da recíproca
compreensão entre judeus e cristãos. Santa Teresa Benedita da Cruz, ora por nós!
Amém"
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