- Segundo o desígnio de Deus e, como
tal, eficaz
A
oração de Jesus não se fundamenta em interesses pessoais ou na força das
palavras e dos gestos. Aliás, se isto viesse acontecer, não passaria de uma
oração ao jeito dos pagãos (Mt 6,7-8), tantas vezes criticada por ele. Os
pagãos, à base de tanto insistirem, de tanto pedirem, de tanto informarem, de
tanto persuadirem com as suas palavras e gestos, é que pensavam ser escutados
pela divindade.
Fundamenta-se, sim, na vontade do Pai, aliás como
toda a sua vida: «Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou (4,34);
(...) Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou
(5,30); (...) E quem me enviou está comigo. Não me deixou sozinho, porque faço
sempre o que lhe agrada» (8,29).
Daí, precisamente, a sua eficácia: «(Marta diz a
Jesus): Mas ainda agora sei que tudo o que pedires a Deus, Ele te concederá»
(11,22); «Jesus ergueu os olhos para o alto e disse: “Pai, dou-te graças porque
me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves...”.
- Pelos seus discípulos (por cada um de nós)
(17,9-19)
No capítulo 17, conhecido pela grande oração de
Jesus ao Pai, é possível observar como os discípulos também fazem parte da sua
oração. E os motivos pelos quais os inclui são variados: para que, no meio do
mundo hostil e já na sua ausência, não abandonem a fé (vv. 11-15); para que
sejam guardados no nome do Pai e preservados do poder do mal (vv. 11.15); para
que, mesmo habitando num mundo incrédulo, cheguem a formar uma coisa só com Ele
e com o Pai (v.11); para que o ódio do mundo não os impeça de gozar a sua plena
alegria (v. 13); para que, como Ele, também eles sejam “santificados na
verdade” (vv. 17.19) e se tornem verdadeiras testemunhas diante dos homens (v.
18);
À parte deste elenco de motivos, podemos destacar ainda
a própria identidade do discipulado. Jesus ora de modo a que os seus discípulos
venham a ser propriedade exclusiva de Deus (v.9), a viver numa situação diversa
daquela em que vive o mundo (vv. 9.14-16), a encontrar-se no mundo, sendo para
o mundo mas sem ser do mundo (vv.9.11.14.16), a acolher e a observar a palavra
de Jesus como enviado do Pai (vv.8.17.19), a aspirar sempre uma comunhão mais
profunda (v. 11).
- Por todos os que virão a acreditar nele
(17,20-26)
Agora não se trata mais dos discípulos estritamente
ditos, mas de todos aqueles que acreditarão nele mediante o anúncio deles (de
cada um de nós). O v. 20 é claro, vejamos: «Não rogo somente por eles, mas
pelos que, por meio da sua palavra, crerão em mim».
Esta súplica, de acordo com a temática da unidade e do amor que
caracterizam esta secção, destina-se a faze-los participar da sua comunhão de
vida e amor com o Pai: «a fim de que todos sejam um (como nós...); (...) Como
tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós» (v. 21); «... para
que sejam um, como nós somos um» (v. 22); «Eu neles e tu em mim, para que sejam
perfeitos na unidade e para que o mundo saiba.. que os amaste como amaste a
mim» (v.23); «Pai, ... quero que, onde eu estou, também eles estejam comigo»
(v.24); «a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles» (v.26).
- Que alcança alguns dons
Entre os muitos dons que Jesus pede e obtém do Pai
para os seus discípulos, está o do Espírito Santo. A indicá-lo vemos o trecho
de Jo 14,16-17: «E rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que
convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode
acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece
convosco».
Tratando-se do Espírito, talvez fosse melhor falar
do dom por excelência ou do dom-fonte, enquanto nascente de todos os dons
divinos ou responsável por toda a riqueza espiritual dos crentes.
Para fazermos uma ideia de quanto seja importante
esta petição de Jesus, bem como da importância de continuar a assumi-la nas
nossas próprias orações, basta termos presente aquilo que o evangelho e as
cartas de João atribuem à obra do Espírito. É próprio do Espírito tornar os
homens filhos de Deus (3,3-8), ajudá-los a superar um modo de pensar puramente
humano e sintonizá-los totalmente com o modo de pensar do Senhor (3,3-8),
promover o culto espiritual (4,23-24), instruir (14,26), confirmar na fé
(15,26-27), levar a um conhecimento sempre mais profundo e claro do mistério de
Cristo (16,13-15; 1Jo 5,6), orientar para uma vida de comunhão e de caridade
(1Jo 3,24; 4,13), transmitir fielmente a palavra de Jesus (1Jo 4,6) e fazê-la
penetrar no íntimo dos corações (Jo 6,63).
Usando outros termos menos técnicos e mais próximos
à nossa linguagem, podemos dizer que a actividade do Espírito é verdadeiramente
excepcional enquanto tende a criar pessoas vivas, não mortas; impacientes de
novidade, não resignadas; lutadoras, não rendidas; trasbordantes de amor, não
tépidas (ñ indiferentes/mornas no amor); novas, não habituadas; autênticas, não
hipócritas; abertas aos valores, não às aparências; encaminhadas para o futuro,
não agarradas ao passado.
Numa palavra, pessoas animadas por aquele mesmo
impulso interior que fazia escrever S. Teresinha do Menino Jesus: «(Quero) ser
carmelita, Esposa e Mãe. No entanto, sinto em mim outras vocações, sinto a
vocação de Guerreiro, de Sacerdote, de Apóstolo, de Doutor, de Mártir; (...)
Quereria ser Missionário (....), mas quereria, sobretudo, Ó meu Bem-amado
Salvador, quereria derramar o meu sangue (isto é, a minha vida) por ti, até à
última gota...» (MsB 2vº, 3rº).
Pe. Vasco
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