16 fevereiro, 2013

Orar à maneira de Jesus e daqueles que se encontraram com Ele... (II)





- Segundo o desígnio de Deus e, como tal, eficaz

A oração de Jesus não se fundamenta em interesses pessoais ou na força das palavras e dos gestos. Aliás, se isto viesse acontecer, não passaria de uma oração ao jeito dos pagãos (Mt 6,7-8), tantas vezes criticada por ele. Os pagãos, à base de tanto insistirem, de tanto pedirem, de tanto informarem, de tanto persuadirem com as suas palavras e gestos, é que pensavam ser escutados pela divindade.    

Fundamenta-se, sim, na vontade do Pai, aliás como toda a sua vida: «Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou (4,34); (...) Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (5,30); (...) E quem me enviou está comigo. Não me deixou sozinho, porque faço sempre o que lhe agrada» (8,29).

Daí, precisamente, a sua eficácia: «(Marta diz a Jesus): Mas ainda agora sei que tudo o que pedires a Deus, Ele te concederá» (11,22); «Jesus ergueu os olhos para o alto e disse: “Pai, dou-te graças porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves...”.

- Pelos seus discípulos (por cada um de nós) (17,9-19)

No capítulo 17, conhecido pela grande oração de Jesus ao Pai, é possível observar como os discípulos também fazem parte da sua oração. E os motivos pelos quais os inclui são variados: para que, no meio do mundo hostil e já na sua ausência, não abandonem a fé (vv. 11-15); para que sejam guardados no nome do Pai e preservados do poder do mal (vv. 11.15); para que, mesmo habitando num mundo incrédulo, cheguem a formar uma coisa só com Ele e com o Pai (v.11); para que o ódio do mundo não os impeça de gozar a sua plena alegria (v. 13); para que, como Ele, também eles sejam “santificados na verdade” (vv. 17.19) e se tornem verdadeiras testemunhas diante dos homens (v. 18);

À parte deste elenco de motivos, podemos destacar ainda a própria identidade do discipulado. Jesus ora de modo a que os seus discípulos venham a ser propriedade exclusiva de Deus (v.9), a viver numa situação diversa daquela em que vive o mundo (vv. 9.14-16), a encontrar-se no mundo, sendo para o mundo mas sem ser do mundo (vv.9.11.14.16), a acolher e a observar a palavra de Jesus como enviado do Pai (vv.8.17.19), a aspirar sempre uma comunhão mais profunda (v. 11).

- Por todos os que virão a acreditar nele (17,20-26)

Agora não se trata mais dos discípulos estritamente ditos, mas de todos aqueles que acreditarão nele mediante o anúncio deles (de cada um de nós). O v. 20 é claro, vejamos: «Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio da sua palavra, crerão em mim».


Esta súplica, de acordo com a temática da unidade e do amor que caracterizam esta secção, destina-se a faze-los participar da sua comunhão de vida e amor com o Pai: «a fim de que todos sejam um (como nós...); (...) Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós» (v. 21); «... para que sejam um, como nós somos um» (v. 22); «Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo saiba.. que os amaste como amaste a mim» (v.23); «Pai, ... quero que, onde eu estou, também eles estejam comigo» (v.24); «a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles» (v.26).


- Que alcança alguns dons

Entre os muitos dons que Jesus pede e obtém do Pai para os seus discípulos, está o do Espírito Santo. A indicá-lo vemos o trecho de Jo 14,16-17: «E rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco».

Tratando-se do Espírito, talvez fosse melhor falar do dom por excelência ou do dom-fonte, enquanto nascente de todos os dons divinos ou responsável por toda a riqueza espiritual dos crentes.

Para fazermos uma ideia de quanto seja importante esta petição de Jesus, bem como da importância de continuar a assumi-la nas nossas próprias orações, basta termos presente aquilo que o evangelho e as cartas de João atribuem à obra do Espírito. É próprio do Espírito tornar os homens filhos de Deus (3,3-8), ajudá-los a superar um modo de pensar puramente humano e sintonizá-los totalmente com o modo de pensar do Senhor (3,3-8), promover o culto espiritual (4,23-24), instruir (14,26), confirmar na fé (15,26-27), levar a um conhecimento sempre mais profundo e claro do mistério de Cristo (16,13-15; 1Jo 5,6), orientar para uma vida de comunhão e de caridade (1Jo 3,24; 4,13), transmitir fielmente a palavra de Jesus (1Jo 4,6) e fazê-la penetrar no íntimo dos corações (Jo 6,63).

Usando outros termos menos técnicos e mais próximos à nossa linguagem, podemos dizer que a actividade do Espírito é verdadeiramente excepcional enquanto tende a criar pessoas vivas, não mortas; impacientes de novidade, não resignadas; lutadoras, não rendidas; trasbordantes de amor, não tépidas (ñ indiferentes/mornas no amor); novas, não habituadas; autênticas, não hipócritas; abertas aos valores, não às aparências; encaminhadas para o futuro, não agarradas ao passado.

Numa palavra, pessoas animadas por aquele mesmo impulso interior que fazia escrever S. Teresinha do Menino Jesus: «(Quero) ser carmelita, Esposa e Mãe. No entanto, sinto em mim outras vocações, sinto a vocação de Guerreiro, de Sacerdote, de Apóstolo, de Doutor, de Mártir; (...) Quereria ser Missionário (....), mas quereria, sobretudo, Ó meu Bem-amado Salvador, quereria derramar o meu sangue (isto é, a minha vida) por ti, até à última gota...» (MsB 2vº, 3rº).

Pe. Vasco

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