"Depois da sua conversão e de ter
deixado a sua actividade como assistente de Hursserl, Edith iniciou um percurso
de intensa actividade como professora, escritora, tradutora, conferencista,
filósofa, e pedagoga. Mas toda esta actividade não fazia afastar de uma intensa
vida espiritual.
As múltiplas actividades, o estudo e o ensino eram conciliados com uma
profunda vida de oração. Na oração e «solidão»
do diálogo amoroso com Deus, Edith encontrava a força interior que a fortalecia
em todas as acções e no trabalho intelectual.
«O importante é que cada pessoa tenha um cantinho tranquilo, no qual
possa relacionar-se com Deus, como se nada existisse, e isto diariamente: o tempo
mais oportuno parece-me ser as primeiras horas da manhã, antes de começar o
trabalho; é então quando se recebe a missão especial para cada dia, sem
escolher nada por si mesma; nesse momento, finalmente, contempla-se a si mesma
como um mero instrumento, e as forças com que deve trabalhar […] A minha vida
começa de novo cada manhã e termina cada noite; para além disto, não tenho
nenhum plano ou propósito […]»
A sua vida espiritual, longe de a fechar num casulo e de a fazer
centrar-se sobre si mesma, abria-a para a realidade do Outro e dos outros, numa
dimensão comunitária e de solidariedade humana. O intuito era um só: levar o
homem a Deus e Deus ao homem. Inicialmente Edith pensava que só na vida
religiosa conseguiria este equilíbrio e esta vocação, mas descobriu que no
mundo, na sua vida quotidiana, desempenhando a sua profissão, ela podia
igualmente viver uma relação intensa com Deus. Bastava ser fiel à oração
diária. E é neste equilíbrio das obrigações pessoais e profissionais com a vida
espiritual que Edith se revela uma mística, um exemplo de perfeita harmonia
entre fé e vida, oração e acção.
«Durante o tempo imediatamente anterior a minha conversão e ainda um bom
tempo depois, cheguei a pensar que levar uma vida religiosa significava o
abandono de tudo o que era terreno e viver somente no pensamento das coisas
divinas. Pouco a pouco compreendi que neste mundo nos é exigida outra coisa e
que inclusive na vida mais contemplativa, a ligação com o mundo não se deve
romper; creio, inclusivamente, que quanto mais profundamente alguém está
mergulhado em Deus, tanto mais deve, neste sentido, “ sair de si mesmo” ou
melhor dizendo, entrar no mundo para comunicar – lhe a vida divina».
Neste espírito, Edith Stein adiou o seu projecto de entrar no Carmelo
para desenvolver um trabalho/ apostolado como educadora cristã. Ela estava
consciente da importância e da necessidade da sua missão como leiga católica na
Igreja e na escola. Neste sentido, ela antecipou-se uma vez mais ao concílio
Vaticano II, que veio valorizar a importância a missão do leigo na Igreja no
mundo.
A rectidão e simplicidade de vida, a serenidade, bondade e
disponibilidade, a amizade e o trato com os outros fazem dela um estandarte
duma católica convicta com uma fé forte. Nela não há dicotomia entra a fé e a
vida. Fé e a vida interligam – se de tal forma que são uma só. Ela dá
testemunho da sua vocação como cristã baptizada. Para isso não precisava de
fazer discursos ou dar conferências, bastava o seu testemunho da vida."
“A verdade e o amor têm necessidade um do outro” (Edith Stein)
MACHADO, António José Gomes - Edith Stein: Pedagoga e Mística.
Braga: Editorial A. O., 2008, pp. 147-149. Santos para hoje.
Recolha de Fr. Eugénio.
Sem comentários:
Enviar um comentário