Nestes dias em que a Igreja medita e vive o capítulo VI do Evangelho segundo São João, propomos à vossa meditação o Cantar da alma que folga em conhecer a Deus por fé, popularmente conhecido como A Fonte, escrito na prisão de Toledo. João da Cruz vai lembrando e saboreando contemplativamente os mistérios da fé, começando no Deus Uno e Trino até à Eucaristia. É um credo, uma oração, um canto.
Que bem sei eu a fonte que mana e corre
Mesmo sendo noite!
1. Aquela eterna fonte está escondida.
Bem eu sei onde tem sua guarida,
Mesmo sendo noite!
2. Sei que não pode haver coisa tão bela
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!
3. Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!
4. O fundo dela, sei, não pode achar-se;
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!
5. É claridade nunca escurecida
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!
6. Tão caudalosas são suas correntes
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!
7. Nascida de tal fonte, esta corrente
Bem sei que é mui capaz e omnipotente,
Mesmo sendo noite!
8. Das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!
9. Aquela eterna fonte está escondida
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!
10. Aqui está chamando as criaturas:
Desta água se saciem, e às escuras,
Porque é de noite!
11. É esta a viva fonte que desejo
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!
São João da Cruz
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