Parece que, finalmente(!!!), chegou algo a que podemos chamar "Verão". E, além do calendário, o calor marca o início das férias que, na praia ou no campo, na cidade ou no interior, nos permitem momentos de descanso, de "ócio gratificante" (Bergoglio), porque "só avança quem descansa" (Vasco Pinto Magalhães).
Mas o descanso não é esquecimento de Deus! É, pelo contrário, até um momento privilégio de encontro com Ele, que nos leva a descansar (Sl 22). E pode sê-lo na natureza, na criação, que, nestes tempos de férias e descanso, apreciamos mais espaçadamente. São João da Cruz ajuda-nos a descobrir como a Natureza, seja a floresta densa ou o extenso areal, a noite estrelada ou o sol que se espelha nas águas dos rios ou dos mares, é ponto de encontro com Deus.
«Mil graças derramando.
Por estas mil graças
entende-se a inumerável multidão das criaturas.
Chama-lhes graças
devido à muita beleza com que as dotou.
E, enquanto as ia derramando,
isto é, povoando a terra inteira,
passou por estes soutos com pressura.
Passar pelos soutos significa criar os elementos,
que aqui chama soutos.
Diz que passava por eles derramando mil graças,
pois os adornava de toda a espécie de criaturas, cheias de beleza.
E também derramava mil graças,
porque as capacitava para colaborar
na geração e conservação de todas elas.
Diz ainda que passou,
porque as criaturas são como um rasto da passagem de Deus;
por meio delas vislumbra-se a sua grandeza, potência,
sabedoria e demais excelências divinas.
Diz também que esta passagem foi com pressura,
pois as criatura são as obras menores de Deus,
que Ele criou como de passagem.
As maiores, pelas quais mais Se revelou e nas quais mais se fixava,
eram as da Encarnação do Verbo e os mistérios da fé cristã.
Todas as outras, comparando-as com estas,
eram feitas como de passagem, a toda a pressa.
E, assim os indo olhando,
com sua só figura
vestidos os deixou de formosura.»
(São João da Cruz, Cântico Espiritual, 5, 2-3)
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