1.
Parece, Senhor meu,
que descansa a minha alma considerando o gozo que terá, se, por Vossa
misericórdia, lhe for concedido gozar de Vós. Mas quereria primeiro servir-Vos,
pois há-de gozar do que Vós, servindo-a a ela, lhe ganhastes. Que farei, Senhor
meu? Que farei, meu Deus? Oh! Que tarde se incendiaram meus desejos, e que cedo
andáveis Vós, Senhor,1 granjeando e chamando para que toda eu me empregasse em
Vós! Porventura, Senhor, desamparais ao miserável ou apartais o pobre mendigo
quando ele se quer chegar a Vós? Porventura, Senhor, têm termo as Vossas
grandezas ou vossas magníficas obras? Ó Deus meu e misericórdia minha! E como
as podereis agora mostrar em vossa serva! Poderoso sois, grande Deus; agora
poder-se-á entender se minha alma se entende a si mesma vendo o tempo que
perdeu, e como num instante Vós podeis, Senhor, fazer com que o torne a ganhar.
Parece-me que desatino; é que o tempo perdido
– como costumam dizer – não se pode
tornar a recuperar. Bendito seja o meu Deus!
2. Ó Senhor! Confesso Vosso grande poder. Se sois poderoso,
como sois, que há de impossível ao que tudo pode? Querei Vós, Senhor meu,
querei! Ainda que seja miserável, creio firmemente que podeis o que quereis, e
quanto maiores maravilhas ouço de Vós e considero que podeis fazer ainda mais,
mais se fortalece a minha fé e com maior determinação creio que Vós fareis o
que Vos peço. E que há para se admirar do que faz o Todo-Poderoso? Vós bem
sabeis, meu Deus, que no meio de todas as minhas misérias nunca deixei de
conhecer Vosso grande poder e misericórdia. Valha-me, Senhor, isto em que Vos não ofendi.
Recuperai, Deus meu, o tempo perdido dando-me graça no presente e no
porvir, para que apareça diante de Vós com vestes de bodas, pois, se quiserdes,
podeis.
Santa Teresa de Jesus (Exclamações IV)
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