20 janeiro, 2014

A ESSÊNCIA DO AMOR


De: Terrence Malick
Com: Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams, Javier Bardem
Drama, M/12, EUA, 2012, 112 min
Trailer.

Malick é um realizador único e importante. Contudo, o seu último filme, A Essência do Amor, parece a obra de um discípulo menor a tentar imitar o mestre. É inevitável a comparação com A Árvore da Vida, não só pela invulgar proximidade temporal entre ambos, como porque, a vários níveis, A Essência do Amor parece ser uma versão histriónica falhada do opus anterior de Malick: com excepção de Rachel McAdams, não se pode propriamente falar de uma performance dos actores; a banda sonora, elemento tão distintivo da estética malickiana, não envolve, apesar da sua qualidade; o registo explicitamente alegórico em que A Árvore da Vida já operava atinge aqui um paroxismo em que os personagens são esvaziados em nome de um simbolismo enfezado se não estéril.

O filme, a confiar no comunicado de imprensa divulgado, pretende ser uma exploração do amor nas suas diversas formas. O confronto mais óbvio, a esse nível, é o que opõe amor “carnal” (dominante na relação Marina-Neil) e “espiritual” (que encontra o seu espaço, de certo modo, em Jane), o qual, por sua vez, evoca um outro, a que se alude abertamente na fita: amor humano | amor divino. O padre interpretado por Javier Bardem insiste nos seus sermões em que o primeiro se funde no segundo e o imite, pois só assim conquistará a permanência. Tal implica, como ele realça, uma decisão activa, que transcenda o mero sentimento, que não faça a relação depender do desejo mas sim da vontade. Bardem enfatiza, no fundo, a necessidade de compromisso, mas, acima de tudo, ilustra-a.

De facto, Quintana está, ele próprio, a passar por uma crise de fé: também a sua relação com Deus atravessa um período difícil, em que se interroga sobre o sentido e a realidade daquilo em que diz acreditar. Ao contrário, porém, de Marina ou Neil, que ante o desgaste do seu amor optam pela solução mais fácil (a separação ou a traição), Quintana persevera na sua vocação e insiste em a cumprir enquanto doação, visitando presos, toxicodependentes e portadores de deficiência. Ele é a resposta palpável ao discurso moderno individualista apresentado por Anna, a amiga italiana de Marina, que afirma: «eu sou a experiência de mim própria». Anna representa o ideal contemporâneo da liberdade absoluta, hostil ao compromisso, que vê como prisão. A felicidade que resulta desse desprendimento revela-se, porém, demasiado esporádica. Só a fidelidade na entrega pode erguer o verdadeiro e o futuro: amar é cativar, como ensinou a Raposa ao Princepezinho.




João Diogo Loureiro, in http://www.essejota.net/index.php?b=home

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