De: Terrence Malick
Com: Ben Affleck, Olga
Kurylenko, Rachel McAdams, Javier Bardem
Drama, M/12, EUA, 2012,
112 min
Trailer.
Malick é um realizador
único e importante. Contudo, o seu último filme, A Essência do Amor, parece a
obra de um discípulo menor a tentar imitar o mestre. É inevitável a comparação
com A Árvore da Vida, não só pela invulgar proximidade temporal entre ambos,
como porque, a vários níveis, A Essência do Amor parece ser uma versão
histriónica falhada do opus anterior de Malick: com excepção de Rachel McAdams,
não se pode propriamente falar de uma performance dos actores; a banda sonora,
elemento tão distintivo da estética malickiana, não envolve, apesar da sua
qualidade; o registo explicitamente alegórico em que A Árvore da Vida já
operava atinge aqui um paroxismo em que os personagens são esvaziados em nome
de um simbolismo enfezado se não estéril.
O filme, a confiar no
comunicado de imprensa divulgado, pretende ser uma exploração do amor nas suas
diversas formas. O confronto mais óbvio, a esse nível, é o que opõe amor
“carnal” (dominante na relação Marina-Neil) e “espiritual” (que encontra o seu
espaço, de certo modo, em Jane), o qual, por sua vez, evoca um outro, a que se
alude abertamente na fita: amor humano | amor divino. O padre interpretado por
Javier Bardem insiste nos seus sermões em que o primeiro se funde no segundo e
o imite, pois só assim conquistará a permanência. Tal implica, como ele realça,
uma decisão activa, que transcenda o mero sentimento, que não faça a relação
depender do desejo mas sim da vontade. Bardem enfatiza, no fundo, a necessidade
de compromisso, mas, acima de tudo, ilustra-a.
De facto, Quintana está,
ele próprio, a passar por uma crise de fé: também a sua relação com Deus
atravessa um período difícil, em que se interroga sobre o sentido e a realidade
daquilo em que diz acreditar. Ao contrário, porém, de
Marina ou Neil, que ante o desgaste do seu amor optam pela solução mais fácil
(a separação ou a traição), Quintana persevera na sua vocação e insiste em a
cumprir enquanto doação, visitando presos, toxicodependentes e portadores de
deficiência. Ele é a resposta palpável ao discurso moderno individualista
apresentado por Anna, a amiga italiana de Marina, que afirma: «eu sou a
experiência de mim própria». Anna representa o ideal contemporâneo da liberdade
absoluta, hostil ao compromisso, que vê como prisão. A felicidade que resulta desse
desprendimento revela-se, porém, demasiado esporádica. Só a fidelidade na
entrega pode erguer o verdadeiro e o futuro: amar é cativar, como ensinou a
Raposa ao Princepezinho.
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