O quarto domingo da quaresma é denominado liturgicamente
como «Domingo Laetare», o «Domingo da Alegria». Também no advento se denomina o
3º Domingo como o «Domingo Gaudete». A caminhada que fizemos para o Natal e esta
que estamos a fazer para a Páscoa é feita no sentido da alegria e da felicidade
porque «um Menino nos foi dado» e porque «o Senhor veio para nos libertar do
pecado com a Sua morte e ressurreição». Era este o pedido da antífona de
entrada: Alegra-te, Jerusalém… Exultai de alegria.
A
espiritualidade quaresmal quer fortalecer-nos na fé para que cheguemos ao dia
de Páscoa e possamos sentir e viver na verdadeira alegria o mistério da morte e
ressurreição de Cristo.
A
luz da fé é um dom de Deus e não uma conquista da inteligência humana ou um
gosto pessoal. A primeira leitura mostra-nos como a fé é uma nova maneira de
ver as coisas e as pessoas. Quer Samuel, quer Jessé de Belém, pensavam que o
rei que o Senhor tinha escolhido para o seu povo era Eliab, porque, além de ser
o mais velho, era belo, forte e sábio. Enganaram-se, no entanto. O Senhor tinha
escolhido David, que andava a guardar o rebanho e era o mais novo. E porquê?
Porque «Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o
coração». Apetecia-me lembrar aqui o que diz o nosso povo: «Quem vê caras não
vê corações». Ora Deus vê as caras e os corações. Deus vê por dentro. É esta
luz que nós precisamos de pedir ao Senhor: a luz do Seu olhar. Quantas vezes,
por causa das aparências, não passamos de cegos com os olhos abertos? Isto é,
vemos mas estamos cegos para ver mais do que a estatura e a beleza exterior. Se
«a bondade e a graça do Senhor nos acomapanharem todos os dias da minha vida»
serei capaz de ver o que Deus quer e aderir à Sua vontade.
Cristo é a «Luz verdadeira que a todo o homem ilumina» (Jo 1. 9, 4-5). S.
Paulo na Carta aos Efésios alerta para um antes e um depois do baptismo:
«Outrora vós ereis trevas, mas agora sois luz no Senhor». Luz e trevas, morte e
vida, vida antiga e vida nova, vida pagã e vida cristã. Antes vivíeis na
ignorância, no erro, no pecado (as trevas). Agora «vivei como filhos da luz» e
«procurai sempre o que mais agrada ao Senhor».
O cego de nascença (Jo 9, 1-41) é imagem do homem que deseja ver. Cristo
é a «Luz do mundo» que nos cura da
cegueira interior, iluminando o nosso entendimento, a nossa memória e a nossa
vontade para que a nossa fé seja cada vez mais viva e profunda, de modo a
reconhecer e confessar Jesus como «o Senhor». Tal como na samaritana, podemos
contemplar neste cego um itinerário de fé: ao início, Jesus é simplesmente um
homem (v 11); depois, é um profeta (v 17); em seguida, é um homem de Deus (v
32-33); finalmente, é o Senhor (v 38). Na cura vemos acontecer um contraste: o
cego abre-se progressivamente à luz do sol e à luz da fé, e os que podem ver (e
tinham os olhos abertos) fecham-se à luz de Cristo (excomungam-no dizendo que
não é um homem de Deus) e entram numa obscuridade cada vez maior. O cego fez o
que Jesus mandou: «lavei-me e fiquei a ver». Nesta quaresma, Cristo, através da
sua Igreja, também nos diz: Lavai-vos, purificai-vos dos vossos pecados,
abandonai as obras das trevas.
Finalmente, a piscina de Siloé. Em hebraico Siloé significa Enviado.
Jesus é o verdadeiro Enviado. Pelo nosso baptismo, fomos lavados e purificados
no seu Sangue. Por isso Jesus nos envia a testemunhar a fé: «Como o Pai me
enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21). A fé sem obras está morta. E,
no dizer de Santa Teresa de Jesus (2M 1, 5), «quando a fé está morta… queremos
mais o que vemos do que aquilo que ela nos diz».
Senhor, mistura também hoje a tua saliva (símbolo da vida divina) com este barro, que sou eu, para que renasça em mim a nova criatura iluminada pela Luz de Cristo. Amém.
Agostinho Leal, ocd
precioso comentario. gracias
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