Começo
por confessar que, desde pequeno, gostei sempre do domingo de ramos. Na
véspera, com o meu pai ou irmãos, íamos procurar nas oliveiras os ramos mais
bonitos para a procissão. E, no dia dos Ramos, nunca me cansei de ouvir aquela
leitura bem comprida da narração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em
tempos de desânimo e desilusão o profeta foi enviado para anunciar uma palavra
de consolação. Apesar da forte oposição que o aguarda, ele não «recua um passo»
e permanece fiel ao Senhor «como um discípulo». A Igreja hoje não se assenta em
cobardes, mas em gente determinada em servir o Senhor. Gente que «não desvia o
rosto dos que a insultam e cospem». O texto de Isaías (primeira leitura)
aplica-se inteiramente á paixão de Jesus. Apesar do sofrimento, nunca voltou
atrás nem nunca renegou a Sua hora, para deixar a esperança da salvação a quem
acaba por reconhecer que «verdadeiramente este Homem era Filho de Deus». Aliás,
a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém só se entende à luz do mistério
pascal. O verdadeiro triunfo é sobre a condenação e a morte.
A
segunda leitura, para os meus gostos, é de uma beleza extraordinária e mostra o
caminho que conduz ao triunfo: «Não se valeu da Sua igualdade com Deus…,
tornou-se semelhante ao homem…, humilhou-se ainda mais…, obedeceu até à morte».
Quem pode compreender este caminho? Não é isto o que diz o mundo. Mas,
verdadeiramente, para subir é preciso saber descer e obedecer. «Por isso Deus O
exaltou». Hoje atrevo-me a dizer que para caminhar com Cristo e como Cristo é
preciso andar muitas vezes ao contrário de honras, êxitos, lugares de destaque,
conquistas e vitórias do mundo. É preciso não ter medo dos caminhos e quelhas
do mundo onde há tanta gente caída, insultada, cuspida, crucificada…, física e
espiritualmente. Realmente é preciso estar na Paixão de Cristo para não fugir
da paixão da humanidade.
Sobre
a narração da Paixão, decididamente e por própria vontade não quero fazer
nenhum comentário para não estragar tão comovente leitura. Só quero pegar num
papel e apontar os nomes de todos os personagens que aparecem neste relato. Só
quero ficar em silêncio e perguntar-me com qual deles mais me identifico. Quero
pedir a Jesus que me faça forte para ser servo e determinado para O seguir até
ao fim, onde começa toda a nossa glorificação.
Santa
Teresa de Jesus, de quem celebramos 499 anos do seu nascimento, afirma: «Deus
dá o prémio conforme ao amor que Lhe tiverem. E este amor, minhas filhas, não
há-de ser forjado pela nossa imaginação, mas provado por obras. E não penseis
que Deus tem necessidade das nossas obras, pois Ele só quer a determinação da
nossa vontade» (3M 1, 7).
O Domingo de
Ramos começa com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Por isso, faço-me
menino hebreu (como as crianças que O aclamaram), fico com o ramo de oliveira
para, de onde estiver, gritar ao mundo que a paz há-de triunfar sempre.
Entretanto: Hossana, hossana. Viva Cristo, Rei e Senhor, Crucificado por nosso
amor.
Agostinho
Leal, ocd
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