A Liturgia deste Domingo convida-nos à
alegria. Um convite que nos é feito da parte do Senhor, porque é n’Ele que está
a fonte da verdadeira alegria. Deus é “alegria infinita” (S. Teresa dos Andes).
Ao convidar-nos à alegria, o Senhor convida-nos a não termos medo: “Não temas,
Sião” (Sof. 3). “Não vos inquieteis com coisa alguma” (Fil. 4), como se nos
diga: “Porque Eu venho a ti, já não tens nada a temer”. Por isso dizia o nosso
Santo Padre João da Cruz: “Não é da vontade de Deus que a alma se inquiete com coisa
alguma”. E assim nos exorta a segunda leitura: “Alegrai-vos” (Fil. 4)
Quando Deus vem ao encontro do homem traz sempre
consigo a alegria e são desterrados o medo, a perturbação, a inquietação. Assim
inicia o Novo Testamento, com a anunciação do Anjo a Nossa Senhora: “Alegra-te,
ó cheia de graça”! “Não temas; Maria”. Desde a encarnação do Verbo, o mundo ficou
vestido da Alegria de Deus! O Senhor traz sempre consigo o sol da alegria que expulsa
as trevas do medo.
Então, se Deus encarnou em Jesus, se já veio
a este mundo, porque continuamos nós a sentir medo, porque nos perturbamos e
inquietamos, porque vivemos tantas vezes em grande ansiedade, tolhidos pelo
medo do futuro, medo de perder os que amamos, medo de não ter emprego, medo de
não sermos compreendidos e aceites, medo de não sermos amados? A Encarnação não
foi um acontecimento do passado, ela continua a acontecer, em cada momento da
nossa vida, no presente que nos é dado viver, aqui e agora. Sentimos o medo que
nos rouba a alegria, porque em muitas situações da nossa vida Ele não encarna,
Ele não tem espaço, estamos surdos e cegos para O reconhecer, porque estamos
demasiado confiantes em nós mesmos e nas nossas forças e não acreditamos que
Ele tem poder para nos dar a força que precisamos para não desanimarmos e
perdermos a esperança. Fazemos divisões dentro de nós e na nossa vida: há
espaços da nossa casa interior onde Ele não tem espaço, não chegou ainda a encarnar,
por isso, essas realidades continuam habitadas pelas sombras do medo e da
inquietação. A nossa relação com Jesus tece-se, muitas vezes, em alguns
momentos de encontro com Ele, algum momento de oração, mas não é uma relação
viva que perdura em todos os momentos e ao longo de todo o dia, com as portas
da nossa casa interior todas escancaradas para Ele. Quando o Senhor vem, vem
sempre de uma forma totalizante para empapar todo o tecido da nossa existência
da Sua presença e não vem apenas a algumas partes ou compartimentos dela. Ele
não quer assumir algumas coisas da nossa vida, Ele quer assumir toda a nossa
vida, sem nada dela ficar excluído, para encher tudo da Sua presença de amor, o
mesmo é dizer, da Sua alegria. Não quer dizer que não teremos mais
dificuldades, mas que não estaremos mais sós.
“O que devemos fazer?” perguntamos também
nós, como no Evangelho. Entreguemo-nos inteiros ao instante presente, dando o
melhor de nós próprios, fazendo o maior bem possível em gestos concretos de
amor, procurando a criatividade do amor que, mesmo do mal, sabe tirar o bem.
Cada instante que nos é dado viver não é para nos fazer medo, mas – porque
temos a certeza e experimentamos que Ele está connosco, Se alegra connosco, faz
festa e exulta de alegria por nossa causa, está presente a nós, ama-nos
infinitamente - sentimos toda a confiança para nos entregarmos, sem medo, a
cada momento, para fazer algo muito belo para o Senhor e para os outros, como o
fizeram Maria e José, ao acolherem Jesus encarnado na sua vida. Que neste Natal
Jesus encontre todo o espaço para nascer em nós e assim encher a nossa vida da
Sua alegria infinita!
Madre Margarida do Menino Jesus
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