Olá, estimados irmãos, eu sou o Carlos e escrevo-vos desde o Convento do Menino Jesus de Praga, em Marco de Canaveses, onde actualmente estou a viver. Aqui no Marco estou a fazer o noviciado, que começou no passado dia 2 de Setembro. Eu sou natural daqui do Marco de Canaveses e tenho 24 anos.
Para vos falar um pouco do meu caminho de discernimento vocacional preciso de fazer convosco uma pequena digressão pela minha vida. A primeira paragem é no início de 2009, onde hoje, ao olhar para o passado e ao reler os acontecimentos, concluo que Deus agiu sobre a minha vida. Nesses primeiros dias do ano houve um Padre Carmelita na minha paróquia que falou aos fiéis de um jovem que tinham acabado de receber na sua comunidade. Esse jovem, depois de ter uma vida construída, achou que Deus lhe falava e que o chamava a procurar a sua realização pessoal no serviço ao próximo. Eu, quando ouvi aquele testemunho, logo me perguntei: E se fosse eu? E se fosse eu a sentir o chamamento de Deus na minha vida? Seria eu capaz de deixar a minha vida para procurar servir os outros, renunciando a mim próprio? Pensei alguns dias nestas questões, pondo-me na situação deste jovem, perguntando-me sobre quais seriam as suas razões. Porém, devido às situações pessoais que vivia no momento, fui pondo estas perguntas a um canto na minha consciência.
Apesar disso, durante esse mesmo ano fui-me comprometendo com a paróquia: como leitor, como responsável pelos acólitos, como catequista, etc... E com o passar do tempo ia-me sentindo mais feliz e entusiasmado com a ideia de me entregar aos outros através destes pequenos serviços. O que não acontecia antes de me questionar sobre o sentido da vida, antes não sentia a necessidade de me entregar aos outros, bem pelo contrário, pensava apenas em mim e em satisfazer aquilo a que hoje, com a devida propriedade do tempo, posso chamar egoísmo, no qual o “eu” tinha todas as prioridades.
Durante o período que antecedeu esta viragem não ia regularmente à Eucaristia dominical, porque não encontrava um sentido para isso, nem me preocupava em encontra-lo. Hoje, ao olhar para o passado, vejo que esse período foi particularmente difícil, sentia que me faltava alguma coisa, sentia que faltava um sentido para dar à vida. Regressei à Igreja sensivelmente no início de 2009, pouco antes de ouvir falar nesse jovem que queria ser carmelita. Este testemunho representou um novo passo na minha vida, uma era de mudança para a verdadeira felicidade.
O ano foi decorrendo, muitas coisas aconteceram no meu percurso e eu, como disse, fui pondo todo o questionamento de lado. Chegou o Outono e decidi começar a participar nas actividades do Carmo Jovem, das quais me tinham falado uns amigos. A primeira actividade em que participei foi uma caminhada em Vila Nova de Cerveira, na qual encontrei pessoas que, com a sua entrega, me fizeram lembrar todas as questões que tinha esquecido. Nesse dia, descobri e comecei a conhecer os Padres Carmelitas, os quais não conhecia, apesar de viver com eles ao meu lado desde que nasci. Este estilo de vida que me era apresentado questionou-me, pela vida de entrega ao outro. E assim, foi acrescentado um novo vigor à minha pergunta: Qual é o sentido da minha vida?
Nos dias seguintes fui reflectindo sobre todo o meu percurso, sobre o porquê de me sentir mais cheio ao dar-me aos outros, sobre qual seria o sentido para a minha vida. Concluí que tinha de dar um sentido mais profundo à vida e então procurei um Padre Carmelita, com quem tive longas conversas. Ele apresentou-me a espiritualidade carmelita e apresentou-me a possibilidade da vida religiosa, dando assim início a um caminho de discernimento vocacional. Nas conversas que tive com ele disse-lhe, entre outras coisas, que procurava esse sentido mais profundo, que procurava entregar-me aos outros, mas não uma simples entrega pontual, procurava antes entregar toda a minha vida para servir os outros. De acordo com esses diálogos convidou-me a experimentar o estilo de vida dos Carmelitas. O que eu aceitei de imediato, passando a frequentar regularmente e de forma mais familiar a comunidade dos Padres Carmelitas.
Daí em diante comecei a ser acompanhado pelo Padre responsável pela formação no meu discernimento vocacional e, ao fim de alguns meses, ele convidou-me a dar mais um passo no caminho. Desta forma, em Julho de 2010, pedi ao superior do convento para iniciar o postulantado, uma etapa de iniciação à vida religiosa. Desde então tenho feito uma experiência de vida que me realiza, pois encontro neste estilo de vida uma forma de dar um sentido profundo à minha juventude, dando-me aos outros, tal como Cristo fez, por isso pedi para ser admitido ao noviciado, para O procurar imitar o mais que a Graça de Deus me permitir.
Vim para o Marco para dar mais alguns passos e assim nesta casa de formação, que é o noviciado, continuo a aprofundar os meus conhecimentos sobre a Ordem do Carmo e estou a ser inserido mais profundamente na vida religiosa e no carisma teresiano que se fundamenta em três belos princípios: oração, comunidade e apostolado.
Neste momento, sinto-me realizado com a opção que tomei, apesar de nem todos os dias ser fácil dizer sim a esta entrega. Porque, sinto-me muito pequeno ao ver a entrega, totalmente por amor, de Jesus, mas caminho na esperança de também eu dar a minha vida pelos amigos.
Para terminar esta apresentação peço-vos que continueis a pedir ao Senhor da Messe pelas vocações e convido-vos a pensar na seguinte questão: Qual o sentido da minha vida?
Obrigado!
Fr. Carlos