porque forte como a morte é o amor.
Nem as águas caudalosas conseguirão apagar o fogo do amor,
nem as torrentes o podem submergir.
(cf. Ct 8, 6)
Olá!
Que Cristo esteja contigo! Gostaria de partilhar contigo uma história de
amizade a caminho para ser uma história de amor: a minha história
vocacional. Falar da vocação é trazer à luz do dia a pérola preciosa e de
grande valor que foi colocada no coração, e isso é sempre um tanto ou quanto
difícil; mesmo assim, não consigo resistir em contar-ta.
Chamo-me
Renato, tenho 20 anos e sou natural da Vila Nova, um belo recanto da Ilha
Terceira (Açores). É preciso recuar ao dia 23 de Junho de 1991 para começar a
contar a minha história: quando o Paulo e a Natal disseram um sim que até hoje
permanece! De facto, quando naquele Maio de 1992, abri os olhos para este mundo,
fui recebido num lar onde o amor podia ser visto em cada gesto dos meus pais
para comigo e, depois cinco anos mais tarde, para com a minha irmã. E fui
crescendo! Cresci a gostar de participar na Eucaristia Dominical, a gostar de
rezar, a gostar de obrigar os meus primos e vizinhos a brincar comigo às
procissões, a gostar de ler coisas sobre Deus, e a dizer, lá de vez em quando,
que queria ser padre. No entanto, enquanto ia crescendo, embora o gosto não
desaparecesse, o dizer que queria ser padre foi algo que, com a vergonha, foi
ficando cada vez mais só no íntimo do meu coração; até que o fui tentando
esquecer.
Enquanto
fui crescendo, fui-me integrando na minha comunidade: primeiro no grupo de
crianças, depois no grupo de oração, a seguir no grupo de jovens, no curso
bíblico, e ainda na catequese, e depois na organização de retiros e outras
actividades… E como era feliz! Vivia em amizade com Jesus; uma amizade
alimentada na oração, provocada pelo trabalho pastoral, aumentada pelas
pequenas contrariedades que ia encontrando, clarificada pelas pessoas que
viviam com as mesmas ânsias do que eu. Esperava a cada momento uma palavra de
Jesus, em que me manifestasse qual era a sua vontade para mim.
Na
altura de escolher a área de estudos para o Secundário, deparei-me de frente
com a questão do futuro e da vocação: era necessário preparar caminho para
aquilo que Jesus me pedisse; eu não poderia recusar! Não posso esquecer as
longas conversas com o meu pároco, o Pe. Francisco, e com alguns amigos e
familiares, principalmente a minha mãe, sobre este tema. E comecei a fazer um
discernimento vocacional mais sério, a buscar calar a minha voz e deixar falar
a voz de Deus. Sentia que Ele me chamava: “cuida do teu povo!”. Sim, a minha
primeira vocação é a vocação ao serviço, em clave de amor, ao povo de Deus. Mas
esse “teu povo” era, no meu curto horizonte, o povo da minha terra, ou no
máximo, da minha diocese.
Até
que um dia, Deus abriu-me os horizontes, através do meu director espiritual: porque
não experimentar a vida religiosa? Entrei em contacto com os Carmelitas e
descobri a beleza do carisma legado por Santa Teresa de Jesus e São João da
Cruz: oração, comunidade e apostolado. A 15 de Outubro de 2010, iniciei o meu
postulantado (primeiro período de experiência), no Convento Stella Maris
(Porto). Foram dois anos de forte experiência do carisma teresiano. No meio de
algumas dúvidas e incertezas, caminhei até à entrada no noviciado (2 de
Setembro de 2012).
O
que se passou nestes dois anos de vida carmelitana? É quase impossível
descrever! A primeira experiência foi a de “deixar”: a família, a comunidade,
os amigos, a terra; e, a um nível mais profundo, aquilo que eu pensava ser a
vontade de Deus. Afinal, aquele “teu povo” eram e são todos os homens e mulheres,
de todos os pontos do globo! Abri os olhos e vi-me com os braços cheios de
pessoas de quem tinha que cuidar! Mas ainda faltava algo… faltava a peça central
do puzzle!
E
é isto que, de uma maneira mais radical, estou a começar a descobrir: a vocação
a entregar-me a Deus. Sim, Deus pede-me a vida para Ele, como o amante pede a
vida da amada, pede-me todo para Ele, na expressão concreta dos votos de
pobreza, castidade e obediência. Só depois de me unir ao Amado, de me centrar
no essencial, poderei cuidar de tantos e tantas que precisam encontrar esse
amor.
No
fundo, foi o amor a chave que me fez compreender a minha vida. Para mim, amar é
“dar tudo e dar-se a si mesmo” (Sta. Teresinha). Sim, dei a Deus/deixei (não os
abandonando, claro!) a minha família, a minha comunidade, os meus amigos, a
minha terra, não porque não os ame ou não me sinta amado, mas porque encontrei
um Amor Maior, tal como os amantes deixam as suas casas porque encontram um
amor maior do que todos os amores. E agora vivo na busca de dar-me a
Deus, de entregar a totalidade da minha vida, do meu amor Àquele que me amou.
Sim, vivo a abrir-me à beleza transformante da epifania do Amor, manifestada na
Cruz. Ainda não me entreguei totalmente a Ele, nem Ele a mim, é certo! Mas, ainda
no anoitecer da minha procura (sim, porque é de Noite que se procura o amado!),
os que já o encontraram e vivem em união de amor com Ele – Sta. Teresa de
Jesus, S. João da Cruz, Sta. Teresinha, Sta. Teresa Benedita da Cruz, B. Isabel
da Trindade -, ao comunicar-me a sua experiência, fazem-me ter a certeza de que
é Ele o que o meu coração procura.
Mas
desengane-se quem pensa que sou um homem maduro e muito silencioso, do qual mal
se nota a presença! Sou um jovem que, como tantos outros, gosta de rir, conversar,
estar com os amigos e com outros jovens e fazer festa. Sou um jovem que vive
feliz na nova família que Deus lhe deu: a multidão de irmãos carmelitas, na
expressão concreta da comunidade onde estou, que faz cada dia ser mais alegre.
Sou um jovem que, no meio das dúvidas e certezas, vai, por montes e ribeiras, à
procura do Amor, vendo a sua história de amizade com Jesus ser transformada em
história de amor.
Fr. Renato
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