19 dezembro, 2012

"Servo do Amor"


“E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna” Mt19,29; “toma a tua cruz segue-me” “Vinde e vereis” (Jo 1,39).


Paz e Bem! Amados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Quero partilhar algo que está no meu coração sobre a minha caminhada vocacional. Somos convidados a reflectir sobre a nossa vocação, pois todos nós trazemos uma vocação específica. Claro que a nossa primeira vocação é o Amor, viver uma vida santa, pois somos filhos de Deus, o Santo dos Santos. 

Chamo-me Eugénio Romão Barreto, sou de Timor-Leste, tenho 28 anos, somos dez irmãos e eu sou o segundo filho entre os dez. Lembro-me de ter tido uma infância feliz. Brinquei muito com os meus irmãos e primos. Hoje, à medida que o tempo passa, compreendo melhor a graça que é a família que Deus me deu. Foi dela que recebi muito do que me tornei, sobretudo dos meus pais.

Foram eles que com paciência – muita! – me ajudaram a crescer, a pouco e pouco, nas virtudes humanas e cristãs. Fui baptizado no dia de São Miguel Arcanjo, na capela de Besilau, paróquia São Francisco Xavier, Dare, Díli, Timor-leste 

Os anos foram passando e sentia um chamamento que tocava o meu coração; mas não sabia quem me chamava…Certo dia, na Missa de são Miguel Arcanjo, fui escolhido para acolitar – se, realmente, eu acreditasse no que fazia durante a Missa! – a resposta foi rápida e afirmativa, e ainda hoje me lembro desta cena. Foi uma profissão de fé, consciente e voluntária, que deu origem a uma certa viragem na minha relação com Deus. A partir daquele dia, tudo passou a ser feito com mais vontade e convicção. 

Em minha casa, infelizmente, não tínhamos o hábito de rezar o Terço em família. Digo isto porque o Terço também foi como que um segundo empurrão na minha relação com Jesus e Maria, numa altura em que estava já a estudar na Universidade.
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Um belo dia, fui convidado para ser animador de Taizé na universidade. Foi uma experiência nova e muito marcante, pois convivi com muitos jovens que viviam a sua fé com muita alegria. Num dos dias da universidade, quando estávamos todos a partilhar as conclusões de um tema em que tínhamos reflectido em pequenos grupos, lembro-me de ter tomado a palavra e ter relembrado aquelas palavras de Jesus: “vinde e vede”. O padre que nos acompanhava perguntou-me, logo de seguida, se eu gostava de rezar à maneira de Taizé. Eu tive que admitir publicamente que não rezava à maneira de Taizé, mas rezava o terço com a minha família. Éramos para aí umas quarenta e sete pessoas. Foi humilhante, mas muito salutar. Esta ocasião levou-me a começar a rezar o terço diariamente, graças a Deus, até hoje.

Depois desta actividade, comecei a envolver-me em vários Movimentos Eclesiais que também me ajudaram muito a crescer na minha vocação. Primeiro foi o grupo de acólitos, depois o Grupo de Jovens de São Francisco Xavier e, além destes, o grupo vocacional organizado por uma religiosa. Foi tudo muito bom. No grupo vocacional, fui conhecendo melhor a Palavra de Deus que queimava cá dentro...

Um dia, um colega convidou-me a participar no aniversário dele e escolheu-me para dirigir a oração. Depois de terminar a oração, um dos presentes levantou a voz e disse: “tu pareces um padre a falar”. Confesso que eu ficava um bocado irritado com isso porque Deus tinha-me mostrado que nos chama a todos a sermos santos e que, portanto, todos deveríamos ter zelo e empenho pelas coisas do Senhor e pela salvação das almas e não apenas os padres e as freiras. Para além disso, tinha alguns sonhos que sabia serem compatíveis com a santidade. E o Senhor também me tinha feito perceber que, nos tempos que vivemos, eram necessários santos no meio do mundo, com uma vida normal e, ao mesmo tempo, heróis que brilhassem como estrelas no meio das trevas que nos rodeiam. Esta é a luz que o Senhor me deu acerca da vocação.

Nessa altura, tinha o bom hábito de, antes de me deitar, ler uma pequena passagem do Novo Testamento. Lia continuadamente, ou abria uma passagem ao acaso. Em certas alturas, quando me questionava acerca da Vontade de Deus para mim, fazia uma pequena oração ao Espírito Santo, pedindo-lhe que me iluminasse, e abria o Novo Testamento ao calhas. Parecia incrível – mas a Deus nada é impossível! -, mas saía-me com frequência a passagem “vinde e vereis” (Jo 1,39). E assim comecei a acreditar que a minha vocação seria a alegria da minha alma, a força da minha vida e a esperança para o meu futuro.

Continuei com os estudos. Fiz então uma espécie de contra-proposta a Jesus: não vou terminar o meu curso, porque quero seguir-te (faltavam-me dois anos). Por essa altura, creio que já ia Missa todos os dias, confessava-me de três em três meses e rezava o terço. Foram conselhos que tomei como vindos da Virgem Maria e que mudaram muito a minha vida. Com o passar do tempo a ideia de ser o religioso deixou de ser incómoda e passou a ser o caminho para seguir Jesus incondicionalmente e oferecer toda a minha vontade, todo o meu coração a Nossa Senhora do Carmo. 

“O amor é fonte de todas as coisas e só o amor vence a violência da vida.” (Edith Stein)

Fr. Eugênio

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