“Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar”(Gn 12,1).
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11,28).
O meu nome é Vitor Boavida Soares. Sou de Timor-Leste, Distrito de Aileu, Concelho de Aileu, Vila e Freguesia de Hoho-lao, e tenho 24 anos. Em casa, éramos 11 irmãos e vivíamos num ambiente religioso promovido pelos nossos pais. Nossa Senhora do Rosário tinha um lugar de destaque na nossa família, aliás como em toda a população da nossa terra, de quem é Padroeira. Alimentávamos a fé através da oração diária, da Eucaristia anual e da celebração da Palavra. Sim, Eucaristia anual, porque na minha terra só há uma vez por ano. Fora disso, o que há, são Celebrações Dominicais da Palavra.
Recordo-me que, quando eu era criança, mais ou menos com a idade de 8 ou 9 anos, a minha irmã começou-me a convidar para ir com ela ensaiar os cânticos da Eucaristia. Olhando para trás e pensando no que, então, ia sentindo, vejo, agora, como todos esses momentos foram fundamentais para eu chegar até este dia. Vejo, claramente, a mão de Deus por detrás de todos eles, uma mão que me ia conduzindo e apontando um caminho a seguir.
Parece que a Eucaristia era um sacramento importante para eu escutar e perceber melhor a voz de Deus… E, assim, ao terminar a escola primária e ao fazer a passagem para o pré-secundário, algo, neste sentido, veio a mudar nos meus dias. Depois de me ter atrevido durante algum tempo a levantar-me cedo para me deslocar para o Ciclo Preparatório, que ficava a duas horas de minha casa, fazendo o percurso a pé, lá me decidi a ficar em Aileu, por seis anos, em casa duma tia. Nesse tempo aí passado, não só tive a oportunidade de me abeirar mais assiduamente da mesa da Eucaristia, mas também de me tornar ministro do altar do Senhor, exercendo o serviço de acólito que outros meus colegas já exerciam.
Digo-vos que o Senhor da Messe sabe muito bem como nos chamar, pois esse primeiro dia de serviço do altar, a 12 de Novembro de 2005, foi passado numa imensa alegria e com uma especial vontade de entrega a Deus e à Igreja.
Terminado o 12º ano em 2009, proporcionou-se um encontro com uma Irmã Carmelita de Clausura, que me falou desta Ordem, a respeito do seu Carisma e Espiritualidade, dando-me, inclusive, a conhecer os seus santos e a sua missão na Igreja. Tive mais algum encontro e diálogo com ela, e, a seu tempo e por seu intermédio, vim a estabelecer contacto com os carmelitas de Portugal, os quais me prestaram vários tipos de acompanhamento e discernimento da minha vocação e me fizeram vir até eles. Depois de ter feito cá as primeiras etapas de formação, Aspirantado e Postulantado, encontro-me a fazer o Noviciado na comunidade de Avessadas, Marco de Canaveses, etapa que me permite conhecer melhor o estilo de vida desta Ordem e compreender se é, de facto, por ela que o Senhor me chama a uma opção fundamental na Sua Igreja.
O Noviciado começou no dia 02 de Setembro de 2012. Nesse mesmo dia, recebi o Hábito Carmelita, juntamente com mais três jovens como eu. Desde então, sinto-me muito contente pelo que o Senhor vem realizando em mim e por Maria me ter dado o Seu manto para me cobrir. Tenho impressão que o meu contentamento não anda muito longe do estado de alma de Teresa de Jesus, quando ela diz: «Ao vestir o hábito: logo o Senhor me deu a entender como favorece aos que se esforçam para O servir. Isto ninguém percebeu em mim, mas sim uma grandíssima vontade. Na altura, deu-me um tão grande contentamento de ter aquele estado, que nunca jamais me faltou até hoje» (Vida 4,2).
Fr. Vitor
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