Com a celebração
do Natal do Senhor, a Igreja leva-nos a contemplar como Jesus assumiu a
realidade da vida humana na sua integralidade, sendo este o sentido mais
profundo da Encarnação. Ora, é dentro da Oitava do Natal do Senhor (oito dias
que são um só dia: o dia do Nascimento do Senhor), que a Igreja, qual sábia
mãe, conduz-nos pela sua mão litúrgica a contemplar um aspecto fulcral da vida
humana: a vida familiar. Assim, Liturgia e vida andam de mãos dadas: nestes
dias em que a família se reúne e se alegra, a Liturgia convoca-a para descobrir,
à luz do lar de Nazaré, a sua identidade.
Na oração
conclusiva da Oração Universal, a Liturgia, ainda que ao de leve, deixa-nos um
aspecto fundamental para que a família descubra a sua identidade. A oração diz
o seguinte: “Senhor Deus, que em Jesus, Maria e José nos destes uma imagem viva
da vossa eterna comunhão de amor,…”. Sim, a família é e está sempre chamada a
ser “imagem viva” da vida da Trindade (Pai, Filho, Espírito Santo), uma vida
que é “eterna comunhão de amor”. Assim, o primeiro traço identitário da família
é SER (não fazer ou aparecer!) imagem VIVA, ou seja, na vida, em cada gesto,
atitude, olhar ou sorriso, oferecer a água viva da eterna comunhão de amor que
é Deus. A família é uma fotografia de Deus: os filhos e toda a sociedade, ao
olharem para a família, devem sentir-se “obrigados”, pela comunhão de amor por
eles manifestada, a olhar para o alto e contemplar a fonte de tal comunhão. Para
SER esta IMAGEM VIVA da vida da Trindade, São Paulo, na sua Carta aos
Colossenses (Col 3, 12-21), oferece um “programa familiar de vida”:
misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, perdão, e, como valor máximo,
o amor. É interessante a expressão paulina: “revesti-vos da caridade”. Sim,
revestir-se é colocar algo por cima de algo; ou seja, é possível viver a
caridade familiar, apesar dos defeitos, manias, erros, faltas de cada um dos
seus membros: basta que cada um, por cima de tudo isso, se revista de caridade,
ou seja, que coloque, acima de todas estas coisas menos boas, a caridade, que
tudo apagará e transformará.
A preciosa página
do Evangelho (Lc 2, 41-52) diz-nos algo também fundamental neste Ano da Fé. A
família perde Jesus (embora haja quem diga que foi Ele que fugiu!). Perdido ou
fugido, o que interessa é que aquela família já não tinha Jesus. E quantas das
nossas famílias fazem, como José e Maria, não um mas muitos dias de viagem sem
Jesus?! Deus torna-se uma questão superficial, algo não falado, não discutido,
não apresentado, ou seja, ausente! Pela brevidade exigida, este não é o momento
para falar desta “saída de cena” de Deus da vida familiar. No entanto, as
famílias que se apercebem do quão perigosa é esta saída, encontram nesta
perícope evangélica uma solução: voltar atrás! Sim, nunca é tarde para voltar
atrás e procurar Jesus, procurar a vida em plenitude oferecida por Deus Pai no
seu Filho Jesus. E, ao encontrar Jesus, como permanecer com Ele? É fácil: como
Ele e com Ele, “estar na casa de meu Pai”. Outras traduções, em vez de “estar
na casa”, propõe “estar ocupado das coisas de meu Pai”. Seja qual for a
tradução, o sentido é claro: o compromisso com a comunidade cristã, família
mais alargada, habitação de Deus Pai, seja ela paroquial ou religiosa, é o
caminho seguro para permanecer com Jesus.
Paulo VI dizia: “A
família é a célula da sociedade”. Se a sociedade está mal, é porque a família
está mal. E quantas vezes as guerras e a pobreza de amor em nossas casas são
maiores que as que vemos na televisão?! Pois bem: em vez de, prioritariamente, nos
queixarmos do estado da sociedade e do mundo, da guerra, da pobreza, paremos e
CUIDEMOS DA NOSSA FAMÍLIA, velemos pelo seu estado, acabemos com as suas
guerras, saciemos a sua pobreza de amor. Para o Novo Ano, em vez de pedirmos a
paz para lá longe (que também a devemos pedir!) e dinheiro e saúde, porque não
pedimos forças e coragem para melhorar a nossa família?
Família, se
quiseres ser família, imagem viva da eterna comunhão de amor, procura Jesus e
permanece com Ele!
Os Noviços
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