09 março, 2013

«Porque eu sou bom» (I)



                «1Porque o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2Depois de combinar com os trabalhadores um denário por dia, mandou-os para a vinha. 3Tornando a sair pela hora terceira, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4e disse-lhes: ‘Ide, também vós para a vinha, e eu vos darei o que for justo’. 5Eles foram. Tornando a sair pela hora sexta e pela hora nona, fez a mesma coisa. 6Saindo pela hora undécima, encontrou outros que lá estavam e disse-lhes: ‘Por que ficais aí o dia inteiro desocupados? 7Responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. Disse-lhes: ‘Ide, também vós, para a vinha’. 8Chegada a tarde, disse o dono da vinha ao seu administrador: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário começando pelos últimos até aos primeiros’. 9Vindo os da hora undécima, receberam um denário cada um. 10E vindo os primeiros, pensaram que receberiam mais, mas receberam um denário cada um também eles. 11Ao receber, murmuravam contra o pai de família, dizendo: 12’Estes últimos fizeram uma hora só e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor do sol’. 13Ele, então, disse a um deles: ‘Amigo, não fui injusto contigo. Não combinaste um denário? 14Toma o que é teu e vai. Eu quero dar a este último o mesmo que a ti. 15Não tenho o direito de fazer o que eu quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau porque eu sou bom?’. 16Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos» (Mt 20,1-16).

Olhemos para o texto

            Trata-se de ler e reler o texto, identificando os seus elementos mais importantes.

1. Personagens
Fala-se num pai de família ou dono da vinha, num administrador e em trabalhadores.
            2. Contratos
Contamos cinco, efectuados pelo pai de família:
            - O contrato com os trabalhadores do amanhecer
            - O contrato com os trabalhadores da hora terceira
            - O contrato com os trabalhadores da hora sexta e da hora nona
            - O contrato com os trabalhadores da hora undécima.

            Note-se as particularidades de todos eles: no primeiro, acerta-se o salário em «um denário por dia» (v. 2); no segundo, no «que for justo» (v. 4); no terceiro e quarto diz-se «fazendo a mesma coisa» (v. 5), ou seja, ajustando o salário em um denário por dia ou com a promessa de vir a dar o que for justo; no quinto, nem sequer se fala em salário (vv. 6-7), mas, pelo que os trabalhadores vêem a receber, ficamos a saber que o acerto não foi diferente. O pai de família apenas diz: «’Ide, também vós, para a vinha’».
            Além destas pequenas diferenças, são contratos que não têm muito a ver com os nossos. Os nossos têm em conta determinadas cláusulas, princípios concretos. Ora, estas cláusulas ou princípios não são tidos em conta por este Senhor.
3. O comportamento do dono da vinha e do administrador
Um comportamento diferente do comportamento dos patrões e dos administradores que conhecemos. Se este dono da vinha ou pai de família fosse verdadeiramente um «patrão», tal como o concebemos, o seu administrador ter-lhe-ia certamente recordado que nem todos chegaram e trabalharam o mesmo número de horas. Mas ele não é um dos patrões que nós conhecemos.
4. As horas
Este pai de família saiu a várias horas para contratar trabalhadores para a sua vinha: de «manhã cedo», pela «hora terceira», «hora sexta e hora nona», «hora undécima». Existe ainda uma outra referência temporal que nos indica o momento do pagamento aos seus trabalhadores: «Chegada a tarde».
5. A vinha
Todos os trabalhadores são contratados a pensar na vinha. Aparece por quatro vezes a expressão «para a vinha», numa das vezes subentendida (v. 5), e uma vez «para a sua vinha».
6. Género literário
Neste olhar para o texto, também não podemos deixar de reparar que se trata duma parábola. A parábola é sempre uma história tirada da vida corrente, com dois ou três personagens, tendo cada um deles comportamentos mais ou menos contrários ou contraditórios, com o intuito de fazer captar uma verdade vivida, ou mal vivida ou contestada. Esta é uma parábola do reino (v. 1).
7. A reacção dos trabalhadores
Embora este Senhor não seja um patrão, os trabalhadores vêem-no como tal e por isso exigem dele um salário conforme ao seu esforço (v. 12).
O texto não diz tudo acerca deste elemento. Depois das palavras do pai de família, de que modo reagiram os que murmuravam? Aceitaram? Continuaram a queixar-se? Responderam com ofensas? A reacção que formos capazes de lhes atribuir pode ser muito bem a nossa reacção diante deste Senhor que não é patrão.
Pe. Vasco

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