A entrada de Jesus Ressuscitado
na vida do apóstolo foi um acontecimento determinante na vida da Igreja
primitiva e, por este motivo, o autor deste livro relata-a não uma, mas três
vezes. Apresentamos aqui os três relatos fornecidos por S. Lucas, a fim de os
lerdes, confrontardes e notardes as diferenças e contradições. O acontecimento
é contado com pormenores não somente diferentes, mas até mesmo contraditórios.
Trata-se – claro está – de incongruências de pouca importância, mas que existem
e são preciosas: sugerem que não interpretemos o relato como um banal facto de
crónica, mas como uma experiência espiritual decisiva na vida de Paulo,
experiência que tem muito para nos ensinar também hoje e da qual falaremos na
próxima publicação.
(Act 9,3-19)
«Estava a caminho e já próximo de
Damasco, quando se viu subitamente envolvido por uma intensa luz vinda do Céu.
Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque me
persegues?» Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» Respondeu: «Eu sou Jesus, a
quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer.»
Os seus companheiros de viagem tinham-se detido, emudecidos, ouvindo a voz, mas
sem verem ninguém. Saulo ergueu-se do chão, mas, embora tivesse os olhos
abertos, não via nada. Foi necessário levá-lo pela mão e, assim, entrou em
Damasco, onde passou três dias sem ver, sem comer nem beber. Havia em Damasco
um discípulo chamado Ananias. O Senhor disse-lhe numa visão: «Ananias!»
Respondeu: «Aqui estou, Senhor.» O Senhor prosseguiu: «Levanta-te, vai à casa
de Judas, na rua Direita, e pergunta por um homem chamado Saulo de Tarso, que
está a orar neste momento.» Saulo, entretanto, viu numa visão um homem, de nome
Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista. Ananias respondeu:
«Senhor, tenho ouvido muita gente falar desse homem e a contar todo o mal que
ele tem feito aos teus santos, em Jerusalém. E agora está aqui com plenos
poderes dos sumos sacerdotes, para prender todos quantos invocam o teu nome.»
Mas o Senhor disse-lhe: «Vai, pois esse homem é instrumento da minha escolha,
para levar o meu nome perante os pagãos, os reis e os filhos de Israel. Eu
mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo meu nome.» Então,
Ananias partiu, entrou na dita casa, impôs as mãos sobre ele e disse: «Saulo,
meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho em
que vinhas, para recobrares a vista e ficares cheio do Espírito Santo.» Nesse
instante, caíram-lhe dos olhos uma espécie de escamas e recuperou a vista.
Depois, levantou-se e recebeu o baptismo. Depois de se ter alimentado,
voltaram-lhe as forças e passou alguns dias com os discípulos, em Damasco».
(Act 22,6-16)
«Ia a caminho, e já próximo de
Damasco, quando, por volta do meio-dia, uma intensa luz, vinda do Céu, me
rodeou com a sua claridade. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo,
Saulo, porque me persegues?’ Respondi: ‘Quem és Tu, Senhor?’ Ele disse-me,
então: ‘Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.’ Os meus companheiros
viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me falava. E prossegui: ‘Que hei-de
fazer, Senhor?’ O Senhor respondeu-me: ‘Ergue-te, vai a Damasco, e lá te dirão
o que se determinou que fizesses.’ Mas, como eu não via, devido ao brilho
daquela luz, fui levado pela mão dos meus companheiros e cheguei a Damasco. Ora
um certo Ananias, homem piedoso e cumpridor da Lei, muito respeitado por todos
os judeus da cidade, foi procurar-me e disse: ‘Saulo, meu irmão, recupera a
vista.’ E, no mesmo instante, comecei a vê-lo. Ele prosseguiu: ‘O Deus dos
nossos pais predestinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e
para ouvires as palavras da sua boca, porque serás testemunha diante de todos
os homens, acerca do que viste e ouviste. E agora, porque esperas? Levanta-te,
recebe o baptismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome’».
(Act 26,12-18)
«Foi assim que, indo para Damasco
com poder e delegação dos sumos sacerdotes, vi no caminho, ó rei, uma luz vinda
do céu, mais brilhante do que o Sol, que refulgia em volta de mim e dos que me
acompanhavam. Caímos todos por terra e eu ouvi uma voz dizer-me em língua
hebraica: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues? É duro para ti recalcitrar contra
o aguilhão.’ Perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou
Jesus a quem tu persegues. Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te
apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que
ainda te hei-de mostrar. Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou
enviar-te, para lhes abrires os olhos e fazê-los passar das trevas à luz, e da
sujeição de Satanás para Deus. Alcançarão, assim, o perdão dos seus pecados e a
parte que lhes cabe na herança, juntamente com os santificados pela fé em mim’».
Pe. Vasco
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