A
Ordem dos Carmelitas Descalços é uma família religiosa
formada por três expressões ou ramos do mesmo carisma: os frades ou padres carmelitas
descalços, que privilegiam a oração pessoal e comunitária e se dedicam
sobretudo à pastoral da espiritualidade; as carmelitas descalças, com os seus
Carmelos de vida exclusivamente contemplativa; e os carmelitas seculares,
leigos que vivem a mesma espiritualidade, mais comprometidos com a
transformação das realidades sociais onde vivem.
Todos
participam do mesmo carisma que os seus fundadores Santa Teresa de Jesus
(1515-1582) e S. João da Cruz (1542-1591) lhes legaram. No entanto, esta Ordem
Religiosa mergulha as suas raízes no Séc. XII, na Regra de Vida que um grupo de
eremitas idos da Europa para defender os lugares santos na Terra Santa, viveram
no Monte Carmelo, na Palestina, imitando a Virgem Maria e o Profeta Elias. Mais
tarde, na segunda metade do séc. XII, com as perseguições dos muçulmanos na
Terra Santa, viram-se obrigados a regressar à Europa, onde se estabeleceram
como Ordem mendicante. Ao chegar ao Séc. XVI, estes dois santos doutores da
Igreja, Santa Teresa de Jesus e S. João da Cruz, naturais de Ávila, Espanha, do
chamado «Século de Ouro» espanhol, reformaram esta Ordem dos Carmelitas e deram
origem a um novo carisma na vida da Igreja – os Carmelitas Descalços.
Estávamos
na época do Renascimento, dos Descobrimentos, da Reforma e Contra-Reforma. Teresa
de Jesus, monja do Convento da Encarnação, em Ávila, onde viviam cerca de 180
monjas, não se conforma com a mediocridade que se vivia nos conventos carmelitas
e, então, empreende uma reforma da vida, espiritualidade e costumes,
regressando à inspiração mais evangélica e originária da Ordem tal como a viveram
os primeiros frades no Monte Carmelo. Imprime um espírito mais evangélico e
comunitário, mais orante e contemplativo, mais humano e fraterno, primeiro, às
comunidades de irmãs (24 de Agosto de 1562) e depois, com a ajuda de S. João da
Cruz, às comunidades de frades (28 de Novembro de 1568).
Teresa
de Jesus diante de uma igreja dividida em lutas disciplinares e teológicas,
conhecedora dos novos mundos que então se abriam com os descobrimentos e a
necessária evangelização dos povos, com o pouco espírito evangélico que se vivia
nas comunidades religiosas e cristãs de então, inspirada por Deus e agraciada
com grandes dons espirituais, decide formar novas comunidades de irmãs e de
padres, mais pequenas (número máximo de Irmãs por Carmelo são 21), onde se
cultivem os valores da amizade, humildade, desprendimento, simplicidade e
determinação de seguir Jesus, imitando a Virgem Maria. Uns e outros, irmãs e
frades, decidem-se a serem mais fiéis ao espírito da Regra Primitiva, formando
comunidades orantes e fraternas, onde se respirasse um verdadeiro espírito
evangélico. Às irmãs pede-lhes que se dediquem à oração e contemplação, levando
ao seu coração as grandes necessidades da Igreja e do Mundo; e aos padres,
pede-lhes que vivam o mesmo ideal de amizade e intimidade com Cristo na oração,
mas que também O anunciam onde for mais necessário pelo testemunho e pela
pregação.
Assim,
o carisma dos (as) carmelitas descalços (as) fica fortemente marcado pelos
ideais da comunhão fraterna e da oração fecunda e apostólica. A contemplação do
mistério trinitário, o amor e a imitação da Virgem Maria e S. José, que haveriam,
segundo o desejo de Santa Teresa, inspirar e proteger a vida das comunidades e
fraternidades carmelitas, além da forte experiência de amizade espiritual que
Teresa e João da Cruz cultivaram entre si e inculcaram nos membros das
comunidades por eles fundadas, lançaram as bases para que o Carmelo possa ser,
nos nossos dias, uma Casa e Escola de Comunhão com Deus e entre os irmãos
convocados a partilharem a vida, seja nos conventos, seja nos grupos de leigos,
formandos por jovens, adultos e famílias.
Este
estilo de vida, com uma espiritualidade muito humana e encarnada, gerou na
Igreja grandes frutos de santidade. Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa
Edith Stein, S. Rafael de S. José, Santa Teresa dos Andes, Beata Isabel da
Trindade, Beato Francisco Palau… são alguns dos muitos sinais de fecundidade
deste carisma na vida da Igreja.
Os
cerca de 4.000 frades, distribuídos por 513 comunidades e 83 países; as cerca
de 10.000 irmãs contemplativas, distribuídas por 100 países e 759 conventos; e os
cerca de 30.000 carmelitas seculares com compromissos, organizados em
fraternidades, e presentes em 72 países, formam esta grande família dos
Carmelitas Descalços, que têm por vocação e missão testemunharam a presença do
Deus Vivo nas suas vidas pessoais e comunitárias, numa vida de encontro e
intimidade com Cristo, e a partir daí, propô-Lo ao mundo não como uma ideia ou
uma teoria, mas como um Deus experimentado, encarnado em Jesus, próximo e íntimo
a cada um de nós. Seja a partir dos leigos carmelitas inseridos na família e na
sociedade, seja a partir dos Carmelos de vida contemplativa, seja a partir das comunidades
de frades e padres, juntos traduzem toda a riqueza da espiritualidade carmelita.
Os padres abraçam os diferentes âmbitos da evangelização da juventude e das
famílias, nas comunidades eclesiais já estruturadas e nas terras de missão,
sobretudo, mediante a promoção da vida espiritual com a criação de casas de
oração, centros de espiritualidade, orientação de retiros, grupos de oração,
formação cristã e compromisso preferencial com os mais pobres e simples ao
jeito de Jesus.
Como
comunhão de uma única Família, em três ramos, todos assumem, segundo a sua
especificidade própria, o compromisso de serem um testemunho alegre da íntima
comunhão com Deus e com os irmãos, transbordando para o mundo, a abundância da
graça que Deus derrama em seus corações pela oração, entendida como trato amigo
e contínuo com Cristo.
Pe. Joaquim Teixeira
Imagem in Provocar - Vocacional Carmelo Descalço
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