28 janeiro, 2014

ORDEM DOS CARMELITAS DESCALÇOS


A Ordem dos Carmelitas Descalços é uma família religiosa formada por três expressões ou ramos do mesmo carisma: os frades ou padres carmelitas descalços, que privilegiam a oração pessoal e comunitária e se dedicam sobretudo à pastoral da espiritualidade; as carmelitas descalças, com os seus Carmelos de vida exclusivamente contemplativa; e os carmelitas seculares, leigos que vivem a mesma espiritualidade, mais comprometidos com a transformação das realidades sociais onde vivem.
Todos participam do mesmo carisma que os seus fundadores Santa Teresa de Jesus (1515-1582) e S. João da Cruz (1542-1591) lhes legaram. No entanto, esta Ordem Religiosa mergulha as suas raízes no Séc. XII, na Regra de Vida que um grupo de eremitas idos da Europa para defender os lugares santos na Terra Santa, viveram no Monte Carmelo, na Palestina, imitando a Virgem Maria e o Profeta Elias. Mais tarde, na segunda metade do séc. XII, com as perseguições dos muçulmanos na Terra Santa, viram-se obrigados a regressar à Europa, onde se estabeleceram como Ordem mendicante. Ao chegar ao Séc. XVI, estes dois santos doutores da Igreja, Santa Teresa de Jesus e S. João da Cruz, naturais de Ávila, Espanha, do chamado «Século de Ouro» espanhol, reformaram esta Ordem dos Carmelitas e deram origem a um novo carisma na vida da Igreja – os Carmelitas Descalços.
Estávamos na época do Renascimento, dos Descobrimentos, da Reforma e Contra-Reforma. Teresa de Jesus, monja do Convento da Encarnação, em Ávila, onde viviam cerca de 180 monjas, não se conforma com a mediocridade que se vivia nos conventos carmelitas e, então, empreende uma reforma da vida, espiritualidade e costumes, regressando à inspiração mais evangélica e originária da Ordem tal como a viveram os primeiros frades no Monte Carmelo. Imprime um espírito mais evangélico e comunitário, mais orante e contemplativo, mais humano e fraterno, primeiro, às comunidades de irmãs (24 de Agosto de 1562) e depois, com a ajuda de S. João da Cruz, às comunidades de frades (28 de Novembro de 1568).
Teresa de Jesus diante de uma igreja dividida em lutas disciplinares e teológicas, conhecedora dos novos mundos que então se abriam com os descobrimentos e a necessária evangelização dos povos, com o pouco espírito evangélico que se vivia nas comunidades religiosas e cristãs de então, inspirada por Deus e agraciada com grandes dons espirituais, decide formar novas comunidades de irmãs e de padres, mais pequenas (número máximo de Irmãs por Carmelo são 21), onde se cultivem os valores da amizade, humildade, desprendimento, simplicidade e determinação de seguir Jesus, imitando a Virgem Maria. Uns e outros, irmãs e frades, decidem-se a serem mais fiéis ao espírito da Regra Primitiva, formando comunidades orantes e fraternas, onde se respirasse um verdadeiro espírito evangélico. Às irmãs pede-lhes que se dediquem à oração e contemplação, levando ao seu coração as grandes necessidades da Igreja e do Mundo; e aos padres, pede-lhes que vivam o mesmo ideal de amizade e intimidade com Cristo na oração, mas que também O anunciam onde for mais necessário pelo testemunho e pela pregação.
Assim, o carisma dos (as) carmelitas descalços (as) fica fortemente marcado pelos ideais da comunhão fraterna e da oração fecunda e apostólica. A contemplação do mistério trinitário, o amor e a imitação da Virgem Maria e S. José, que haveriam, segundo o desejo de Santa Teresa, inspirar e proteger a vida das comunidades e fraternidades carmelitas, além da forte experiência de amizade espiritual que Teresa e João da Cruz cultivaram entre si e inculcaram nos membros das comunidades por eles fundadas, lançaram as bases para que o Carmelo possa ser, nos nossos dias, uma Casa e Escola de Comunhão com Deus e entre os irmãos convocados a partilharem a vida, seja nos conventos, seja nos grupos de leigos, formandos por jovens, adultos e famílias.
Este estilo de vida, com uma espiritualidade muito humana e encarnada, gerou na Igreja grandes frutos de santidade. Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Edith Stein, S. Rafael de S. José, Santa Teresa dos Andes, Beata Isabel da Trindade, Beato Francisco Palau… são alguns dos muitos sinais de fecundidade deste carisma na vida da Igreja.
Os cerca de 4.000 frades, distribuídos por 513 comunidades e 83 países; as cerca de 10.000 irmãs contemplativas, distribuídas por 100 países e 759 conventos; e os cerca de 30.000 carmelitas seculares com compromissos, organizados em fraternidades, e presentes em 72 países, formam esta grande família dos Carmelitas Descalços, que têm por vocação e missão testemunharam a presença do Deus Vivo nas suas vidas pessoais e comunitárias, numa vida de encontro e intimidade com Cristo, e a partir daí, propô-Lo ao mundo não como uma ideia ou uma teoria, mas como um Deus experimentado, encarnado em Jesus, próximo e íntimo a cada um de nós. Seja a partir dos leigos carmelitas inseridos na família e na sociedade, seja a partir dos Carmelos de vida contemplativa, seja a partir das comunidades de frades e padres, juntos traduzem toda a riqueza da espiritualidade carmelita. Os padres abraçam os diferentes âmbitos da evangelização da juventude e das famílias, nas comunidades eclesiais já estruturadas e nas terras de missão, sobretudo, mediante a promoção da vida espiritual com a criação de casas de oração, centros de espiritualidade, orientação de retiros, grupos de oração, formação cristã e compromisso preferencial com os mais pobres e simples ao jeito de Jesus.

Como comunhão de uma única Família, em três ramos, todos assumem, segundo a sua especificidade própria, o compromisso de serem um testemunho alegre da íntima comunhão com Deus e com os irmãos, transbordando para o mundo, a abundância da graça que Deus derrama em seus corações pela oração, entendida como trato amigo e contínuo com Cristo. 

Pe. Joaquim Teixeira

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