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testemunho de um carmelita descalço secular
Ao iniciar este artigo
testemunhal, veio-me ao pensamento Santa Teresa do Menino Jesus, que ao começar
a sua autobiografia escreveu que ia “cantar as misericórdias do Senhor”. De
facto a história da vocação de qualquer pessoa, outra coisa não é do que “cantar
as misericórdias do Senhor”, pois Ele é o protagonista, é Ele quem chama e é Ele
que nos dá as forças para lhe darmos o nosso sim.
A minha vocação carmelita começa na minha infância,
com uma atracção especial por Jesus e todo o religioso.
Sem ter a consciência disso, posso
dizer, sem faltar à verdade que, desde então, era um contemplativo. Assim, era
Deus humanado, Jesus Cristo quem me atraía para Si e me chamava a segui-Lo.
O meu contacto, desde muito
pequenino, com o Carmelo ajudou muito a crescer e a desenvolver este espírito
contemplativo que o Senhor depositou em mim.
Durante a minha adolescência
senti, de maneira muito intensa, que O Senhor me tinha seduzido e que não tinha
outra opção senão deixar-me seduzir por Ele. Nasceu, então, uma sede de oração.
Tinha uma grande necessidade de fazer oração. Seguia as minhas devoções (oração
vocal), mas isto não me bastava, precisava que me ensinassem a orar (oração
mental). O exemplo e testemunho de Santa Teresa de Jesus, fizeram-me sentir que
era na “escola” do Carmelo que eu devia aprender esta “ciência” maravilhosa que
me permitia saborear a presença deste Deus que me chamava a viver na Sua
intimidade. Aqui percebi que a minha vocação era o Carmelo. Desejava ser filho
de Santa Teresa de Jesus e de São João da Cruz. A maneira de realizar esta
vocação, não o sabia.
Iniciei, na juventude, um processo
vocacional, com o meu director espiritual, e vendo e analisando as várias
possibilidades de consagração (sacerdotal, religiosa ou laical), segundo
variados carismas, que como flores, perfumam o imenso jardim que é a Igreja,
percebi que só no Carmelo me podia realizar e ser feliz, como pessoa e como
cristão.
Senti, desde logo, que a minha
vocação era contemplativa e laical. Desejava ser como um monge no meio do mundo.
Como realizar esta vocação? Dentro
do Carmelo tinha a oportunidade de conciliar a minha vocação carmelitana,
contemplativa e laical. E foi assim que entrei no Carmelo Secular.
Durante um tempo ainda pensei que o melhor seria
entrar na Ordem como frade e fiz uma pequena experiência vocacional entre os
Frades Carmelitas. Mas, realmente, identificava-me mais com o Carmelo Secular.
A fundação do Carmelo Secular do
Porto (onde habito) deu-se no dia 16 de Julho de 1997, no antigo e extinto
Carmelo do Porto. Como o grupo era muito numeroso, o Delegado Provincial do
Carmelo Secular, determinou que se dividisse em dois grupos. Na verdade havia
um grupo proveniente de Paços de Ferreira e um grupo de pessoas da região do
Porto. Esta divisão deu origem às duas comunidades, atuais, do Carmelo Secular
de Paços de Ferreira e do Porto.
Seguindo um rumo novo, o grupo do
Porto, por minha iniciativa, foi reunido e estabeleceu-se no Convento dos
Carmelitas Descalços do Porto. Com o aval do Provincial e do superior do
Convento.
Sugeri que a comunidade se
chamasse Stella Maris, um título de Nossa Senhora do Carmo, tão querido entre
nós, carmelitas.
Passamos por muitas fases e
dificuldades, mas permanecemos fiéis aos nossos encontros mensais, de formação
e oração.
Fui o fundador da Fraternidade
Stella Maris do Carmelo Secular do Porto, o impulsionador, responsável e
formador, desde 1997 até 2010. Agora a comunidade continua, com novos rumos e
sempre na escuta do que Deus nos pede.
Juntamente com as monjas de
clausura e os frades, os carmelitas seculares, formam uma mesma família, a
Ordem dos Carmelitas Descalços, com a mesma vocação e missão dentro da Igreja e
para o mundo.
Como carmelita descalço, tenho a
vocação primeira de buscar, pela oração e contemplação, a presença e a intimidade
com Deus, que me ama com um amor eterno e que me aceita tal como sou, com as
minhas virtudes e defeitos. E como missão, testemunhar, na família, no ambiente
em que vivo, no trabalho e onde quer que me encontre, esta experiência de Deus
que nos envolve com o Seu amor e misericórdia.
Deste modo, encontrei a minha
vocação: ser um contemplativo no meio do mundo, um “monge/eremita” urbano,
levando a todas as realidades humanas e às estruturas sociais esta presença
misteriosa de Deus, na nossa alma, que nos alegra, fortifica e dá sentido à
nossa existência, pois “Só Deus basta”!
António
José de Jesus (Gomes Machado), OCDS
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