17 fevereiro, 2014

História de uma vocação…


… testemunho de um carmelita descalço secular



Ao iniciar este artigo testemunhal, veio-me ao pensamento Santa Teresa do Menino Jesus, que ao começar a sua autobiografia escreveu que ia “cantar as misericórdias do Senhor”. De facto a história da vocação de qualquer pessoa, outra coisa não é do que “cantar as misericórdias do Senhor”, pois Ele é o protagonista, é Ele quem chama e é Ele que nos dá as forças para lhe darmos o nosso sim.
A minha vocação carmelita começa na minha infância, com uma atracção especial por Jesus e todo o religioso.
Sem ter a consciência disso, posso dizer, sem faltar à verdade que, desde então, era um contemplativo. Assim, era Deus humanado, Jesus Cristo quem me atraía para Si e me chamava a segui-Lo.
O meu contacto, desde muito pequenino, com o Carmelo ajudou muito a crescer e a desenvolver este espírito contemplativo que o Senhor depositou em mim.
Durante a minha adolescência senti, de maneira muito intensa, que O Senhor me tinha seduzido e que não tinha outra opção senão deixar-me seduzir por Ele. Nasceu, então, uma sede de oração. Tinha uma grande necessidade de fazer oração. Seguia as minhas devoções (oração vocal), mas isto não me bastava, precisava que me ensinassem a orar (oração mental). O exemplo e testemunho de Santa Teresa de Jesus, fizeram-me sentir que era na “escola” do Carmelo que eu devia aprender esta “ciência” maravilhosa que me permitia saborear a presença deste Deus que me chamava a viver na Sua intimidade. Aqui percebi que a minha vocação era o Carmelo. Desejava ser filho de Santa Teresa de Jesus e de São João da Cruz. A maneira de realizar esta vocação, não o sabia.
Iniciei, na juventude, um processo vocacional, com o meu director espiritual, e vendo e analisando as várias possibilidades de consagração (sacerdotal, religiosa ou laical), segundo variados carismas, que como flores, perfumam o imenso jardim que é a Igreja, percebi que só no Carmelo me podia realizar e ser feliz, como pessoa e como cristão.
Senti, desde logo, que a minha vocação era contemplativa e laical. Desejava ser como um monge no meio do mundo.
Como realizar esta vocação? Dentro do Carmelo tinha a oportunidade de conciliar a minha vocação carmelitana, contemplativa e laical. E foi assim que entrei no Carmelo Secular.
Durante um tempo ainda pensei que o melhor seria entrar na Ordem como frade e fiz uma pequena experiência vocacional entre os Frades Carmelitas. Mas, realmente, identificava-me mais com o Carmelo Secular.
A fundação do Carmelo Secular do Porto (onde habito) deu-se no dia 16 de Julho de 1997, no antigo e extinto Carmelo do Porto. Como o grupo era muito numeroso, o Delegado Provincial do Carmelo Secular, determinou que se dividisse em dois grupos. Na verdade havia um grupo proveniente de Paços de Ferreira e um grupo de pessoas da região do Porto. Esta divisão deu origem às duas comunidades, atuais, do Carmelo Secular de Paços de Ferreira e do Porto.
Seguindo um rumo novo, o grupo do Porto, por minha iniciativa, foi reunido e estabeleceu-se no Convento dos Carmelitas Descalços do Porto. Com o aval do Provincial e do superior do Convento.
Sugeri que a comunidade se chamasse Stella Maris, um título de Nossa Senhora do Carmo, tão querido entre nós, carmelitas.
Passamos por muitas fases e dificuldades, mas permanecemos fiéis aos nossos encontros mensais, de formação e oração.
Fui o fundador da Fraternidade Stella Maris do Carmelo Secular do Porto, o impulsionador, responsável e formador, desde 1997 até 2010. Agora a comunidade continua, com novos rumos e sempre na escuta do que Deus nos pede.
Juntamente com as monjas de clausura e os frades, os carmelitas seculares, formam uma mesma família, a Ordem dos Carmelitas Descalços, com a mesma vocação e missão dentro da Igreja e para o mundo.
Como carmelita descalço, tenho a vocação primeira de buscar, pela oração e contemplação, a presença e a intimidade com Deus, que me ama com um amor eterno e que me aceita tal como sou, com as minhas virtudes e defeitos. E como missão, testemunhar, na família, no ambiente em que vivo, no trabalho e onde quer que me encontre, esta experiência de Deus que nos envolve com o Seu amor e misericórdia.
Deste modo, encontrei a minha vocação: ser um contemplativo no meio do mundo, um “monge/eremita” urbano, levando a todas as realidades humanas e às estruturas sociais esta presença misteriosa de Deus, na nossa alma, que nos alegra, fortifica e dá sentido à nossa existência, pois “Só Deus basta”!


António José de Jesus (Gomes Machado), OCDS

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