Quando faço uma viagem de
carro, gosto de usar o gps. É um caminho que me leva ao lugar desejado. É uma
companhia que, de vez em quando, fala para mim. É um amigo que me avisa de
alguns perigos que me podem tramar a marcha e a vida.
Ao começar o tempo da
quaresma, recebi um convite do papa Francisco: «Convido todo o cristão, em
qualquer lugar ou situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro
pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar
encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar» (EG, nº 3). Naturalmente
que eu me incluo no grupo daqueles que estão voltados para Cristo; por isso,
aceitei o convite para renovar o encontro pessoal com Ele. E, assim como o gps, quando começo a marcha,
me manda para a estrada iluminada, assim também eu recorro à luz da Palavra de
Deus – o gps de Deus – para que
ilumine o meu pensamento, o meu coração e a minha vontade neste caminho quaresmal até ao encontro pascal com
Cristo ressuscitado.
O primeiro aviso (Gen
2, 7-9; 3, 1-7) é o da obediência a Deus, Pai criador. Na história de Deus e do
homem aparece sempre quem diga «não faças caso», «isso é treta», «faz o que te
apetecer, pois nada é proibido». Quer dizer, haverá sempre serpentes
(tentações) a desdizer a lei de Deus e a vontade de Deus. Cá por mim,
continuarei a rezar: «Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu».
Vale a pena recordar a palavra de Pedro: «Importa mais obedecer a Deus do que
aos homens» (Act 5, 29).
O segundo aviso
lembra-me que o que eu faço acaba por ter repercussões nos outros (Rom 5,
12.17-19). Eu posso dar entrada ou fechar a porta ao pecado; eu posso ser um
canal de condenação ou de salvação. «De facto, como pela obediência de um só
homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só,
muitos se tornarão justos».
O terceiro aviso
traduz-se numa ordem: é preciso lutar. Mais do que nas tentações – e muito
menos no demónio – gosto de contemplar neste Evangelho (Mt 4, 1-11) o Jesus
vitorioso. Nele contemplamos o homem encravado entre a sedução das coisas do
mundo e a força libertadora da graça que liberta do pecado. Job afirmou: «A
vida do homem sobre a terra é uma luta» (Job 7, 1). Não há santo nenhum que não
tenha lutado. Qual o inimigo a derrotar? Há inimigos internos que causam
desordens: soberba, avareza, luxúria e gula; há inimigos que causam desordem no
nosso ânimo: inveja, ira, preguiça. Há inimigos externos, o demónio, pessoas
tentadoras, estruturas sociais injustas, etc. Cristão que não luta é um cristão
vencido. Para lutar temos a graça de Deus, os sacramentos, a fuga das ocasiões
de pecado, o cultivo do espírito de penitência, a prática das virtudes… Jesus
saiu vitorioso das tentações. Nele e com Ele somos vencedores. A força para o
combate vai-se buscar principalmente à oração: «Criai em mim, ó Deus, um
coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme».
Nesta primeira semana
da quaresma talvez alguém não saiba senão falar de jejum, penitência,
sacrifícios, etc. Pessoalmente, inclino-me para um combate (uma penitência),
que considero superior: dominar a (má) língua. Dizia S. João da Cruz: «É melhor
vencer-se na língua do que jejuar a pão e água» (Ditos de luz e amor, nº 181).
Também Fenon de Citon interpretava: «Temos duas orelhas e uma só boca,
justamente para escutar mais e falar menos». E a sabedoria do povo arremata: «O
mal que da tua boca sai, no teu peito cai».
Vamos à luta até à
vitória da Páscoa!
Agostinho Leal, ocd
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