09 março, 2014

PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA – VAMOS À LUTA


Quando faço uma viagem de carro, gosto de usar o gps. É um caminho que me leva ao lugar desejado. É uma companhia que, de vez em quando, fala para mim. É um amigo que me avisa de alguns perigos que me podem tramar a marcha e a vida.

Ao começar o tempo da quaresma, recebi um convite do papa Francisco: «Convido todo o cristão, em qualquer lugar ou situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar» (EG, nº 3). Naturalmente que eu me incluo no grupo daqueles que estão voltados para Cristo; por isso, aceitei o convite para renovar o encontro pessoal com Ele.  E, assim como o gps, quando começo a marcha, me manda para a estrada iluminada, assim também eu recorro à luz da Palavra de Deus – o gps de Deus – para que ilumine o meu pensamento, o meu coração e a minha vontade neste caminho quaresmal até ao encontro pascal com Cristo ressuscitado.

O primeiro aviso (Gen 2, 7-9; 3, 1-7) é o da obediência a Deus, Pai criador. Na história de Deus e do homem aparece sempre quem diga «não faças caso», «isso é treta», «faz o que te apetecer, pois nada é proibido». Quer dizer, haverá sempre serpentes (tentações) a desdizer a lei de Deus e a vontade de Deus. Cá por mim, continuarei a rezar: «Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu». Vale a pena recordar a palavra de Pedro: «Importa mais obedecer a Deus do que aos homens» (Act 5, 29).

O segundo aviso lembra-me que o que eu faço acaba por ter repercussões nos outros (Rom 5, 12.17-19). Eu posso dar entrada ou fechar a porta ao pecado; eu posso ser um canal de condenação ou de salvação. «De facto, como pela obediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornarão justos».

O terceiro aviso traduz-se numa ordem: é preciso lutar. Mais do que nas tentações – e muito menos no demónio – gosto de contemplar neste Evangelho (Mt 4, 1-11) o Jesus vitorioso. Nele contemplamos o homem encravado entre a sedução das coisas do mundo e a força libertadora da graça que liberta do pecado. Job afirmou: «A vida do homem sobre a terra é uma luta» (Job 7, 1). Não há santo nenhum que não tenha lutado. Qual o inimigo a derrotar? Há inimigos internos que causam desordens: soberba, avareza, luxúria e gula; há inimigos que causam desordem no nosso ânimo: inveja, ira, preguiça. Há inimigos externos, o demónio, pessoas tentadoras, estruturas sociais injustas, etc. Cristão que não luta é um cristão vencido. Para lutar temos a graça de Deus, os sacramentos, a fuga das ocasiões de pecado, o cultivo do espírito de penitência, a prática das virtudes… Jesus saiu vitorioso das tentações. Nele e com Ele somos vencedores. A força para o combate vai-se buscar principalmente à oração: «Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme».

Nesta primeira semana da quaresma talvez alguém não saiba senão falar de jejum, penitência, sacrifícios, etc. Pessoalmente, inclino-me para um combate (uma penitência), que considero superior: dominar a (má) língua. Dizia S. João da Cruz: «É melhor vencer-se na língua do que jejuar a pão e água» (Ditos de luz e amor, nº 181). Também Fenon de Citon interpretava: «Temos duas orelhas e uma só boca, justamente para escutar mais e falar menos». E a sabedoria do povo arremata: «O mal que da tua boca sai, no teu peito cai».
Vamos à luta até à vitória da Páscoa!

Agostinho Leal, ocd

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