Queridos irmãos e irmãs
carmelitas, a minha saudação pascal! É tempo de Páscoa, é tempo de reconhecer
que, no caminho de cada dia, não caminhamos sós, mas há Alguém que discretamente
caminha ao nosso lado. Estamos acompanhados por Jesus Ressuscitado que dá um
sentido novo à nossa existência! Os discípulos de Emaús também se sentiram acompanhados.
Reconheceram Jesus na Fracção do Pão e partilharam um com o outro: «Não nos
ardia cá dentro o coração!?».
A celebração da eucaristia
é um mistério de luz e de amor. É mistério de luz porque ao partir o Pão, a luz
do Ressuscitado invade o nosso coração e na Sua luz abrem-se os nossos olhos que
começam a ver o que antes estava velado; é mistério de amor, porque em cada eucaristia,
o nosso coração é invadido pelas torrentes da caridade divina do próprio amor
de Jesus ressuscitado!
O encontro com Jesus,
o acolhimento da Sua amizade e companhia introduziu rupturas na vida dos
discípulos de Emaús que estavam de costas voltadas para a comunidade. Consciencializaram
a profunda tristeza e desilusão em que estavam mergulhados e arrepiaram
caminho, mudaram de sentido, deixaram a direcção de Emaús, símbolo do
individualismo solitário e triste, e voltaram-se para Jerusalém; partiram ao
encontro da comunidade dos discípulos, recuperando a alegria e o entusiasmo. Na
verdade, o encontro com Jesus cria a necessidade do encontro e comunhão com os
outros discípulos para partilhar e celebrar a alegria numa comunidade de fé, de
vida e de amor.
Ao partirmos o pão quotidiano
em cada eucaristia, também nós somos empurrados pelo Ressuscitado para fora de
nós mesmos, para fora da casa fechada do nosso egoísmo e enviados para a comunidade
- o lugar da comunhão, da festa e do amor partilhado, o lugar onde se encarna a
comunidade trinitária sobre a terra!
Nós, carmelitas, somos
homens e mulheres que vivem o seguimento de Jesus Cristo formando comunidades
que se alimentam do essencial cristão pela escuta da Palavra de Deus, pela
experiência pascal, pela fé no Crucificado e Ressuscitado, pelo tom carismático
que a Virgem Maria e os nossos fundadores nos legaram. As nossas comunidades,
sejam de consagrados ou de fiéis leigos, hão-de ser centros de irradiação da
fé, do amor e da compaixão de Deus, traduzidos em obras e gestos salvíficos.
Hoje, a Igreja
identifica particulares sinais de esperança com a eleição do Papa Francisco. Os
seus primeiros gestos e palavras interpelam a grande comunidade de comunidades
que é a Igreja. A aparição deste pastor universal à frente da Igreja traz-nos um
convite à pobreza, à simplicidade e radicalidade evangélicas. Convida-nos a
reconhecer Jesus nos caminhos e nas pousadas, a deixarmo-nos invadir pela luz e
amor do Ressuscitado e a partir em direcção aos outros, à comunidade, levando a
alegria transbordante da fé pascal. A fidelidade transparente ao Evangelho
sensibiliza, arrasta, dá esperança a crentes e não crentes, toca e aquece os
corações… Saibamos ler estes sinais programáticos que evangelizam por irradiação
e pelo testemunho.
E nós, carmelitas, como
é que nos situamos diante desta evidência que a frescura do Evangelho incarnado
exerce? De que estamos à espera? Também nós precisamos de devolver à Igreja, à
nossa Ordem, às nossas comunidades e às nossas vidas pessoais o verdadeiro
rosto de Cristo Ressuscitado com o fermento transformador do Seu Evangelho. Os
hábitos, os rituais, a idade, os costumes, as estruturas tendem a arrastar-nos
para uma certa mediocridade, rotina e conformismo, perdendo a relevância do
poder desafiante de Jesus. Não nos acomodemos, deixemos Emaús e partamos para
Jerusalém!
O Papa Francisco na
sua Missa inaugural exortava-nos: «Não
devemos ter medo da bondade, ou mesmo da ternura. (…) A ternura (…) não é a
virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade
de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não
devemos ter medo da bondade, da ternura!» A ternura e a bondade são a face
visível do amor invisível que arde no nosso coração e nas nossas comunidades.
Estimados
irmãos e irmãs carmelitas, consagrados e seculares, demo-nos conta como também
o nosso coração arde na presença do Ressuscitado. Reconheçamo-Lo e convertamo-nos
de novo a Ele e à vida em comunidade. Regressemos, depois de cada eucaristia, a
Jerusalém, à comunidade, ao encontro com os outros discípulos de Jesus nesta
vinha do Carmelo. Na partilha dos bens morais, intelectuais, materiais e,
sobretudo, espirituais descobriremos o enorme potencial evangelizador da comunidade.
É a partir de uma forte experiência de fraternidade que podemos partir para a
missão, que seremos capazes de saltar para as periferias, indo de encontro aos
que estão longe geográfica, afectiva e espiritualmente, edificando, nos gestos
concretos de amor, na comunidade e na missão, o grande Corpo da Igreja,
presente em toda a terra.
Neste
Dia de Páscoa e em todo o tempo pascal deixemo-nos atingir pela luz e calor da
Ressurreição rezando com o Papa Bento XVI: «A explosão da vossa Ressurreição,
Senhor, agarrou-nos no Baptismo para nos atrair. A vossa Ressurreição
alcançou-nos e agarrou-nos. Senhor ressuscitado, a Vós nos agarramos, sabendo
que nos segurais firmemente, mesmo quando as nossas mãos se debilitam.
Agarrados à Vossa mão, Senhor, seguramos também, as mãos uns dos outros,
tornamo-nos um único corpo», nesta grande comunhão de todos os baptizados (cf.
Bento XVI, Homilia, 15 de Abril de 2006). Guardai-nos, Senhor, nesta grande
comunhão de família cristã e carmelita e dai-no-la a saborear, desde já, na
beleza de cada Liturgia celebrada, como antegozo da eternidade que nos espera!
Que Jesus Ressuscitado vos aqueça e ilumine o coração!
Santa Páscoa! Abraço-vos a todos com amizade, Pe Joaquim Teixeira, prov.